quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A Mão do Diabo

A Mão do Diabo por José Rodrigues dos Santos


José Rodrigues dos Santos domina a técnica do policial americano, mestriza a língua portuguesa na sua vertente jornalística e popular, imaginou uma trama promissora, mas escolheu escrever um longo e aborrecido panfleto propagandístico da visão politica neoliberal da crise económica.

Com longas tiradas sobre a crise que parecem saídas da boca de  Medina Carreira, este livro mistura frases feitas com erros básicos de economia e um sem número de referências descontextualizadas a várias personalidades e acontecimentos internacionais.

Não se trata de literatura nas de um folheto politico em que a cassete neoliberal é repetida à exaustão (blá, blá, blá, inevitável, blá, blá, sacrifícios  blá, blá, desvalorização interna, blá, blá, blá, necessário diminuir salários, blá, blá, blá, euro, blá, blá, competitividade pelos salários, blá, blá, blá). Podia ser um comício populista, saiu um livro. 

O Juramento dos Cinco Lordes

O Juramento dos cinco Lordes por Yves Sente e Andre Juillard

Religiosamente em Dezembro é lançado um álbum com as aventuras de Blake e Mortimer a dupla criada por Edgar Pierre Jacobs, agora nas mãos menos hábeis de Yves Sente e Andre Juillard.

T.E. Lawrense, celebrizado como Lawrence da  Arábia, morreu aos 46 anos num acidente de moto em Inglaterra.  Nesta história este trágico acontecimento é relatado como um assassinato político perpetrado pelos próprios serviços secretos ingleses.

Como aqui escrevi : Quando morre um criador de banda desenhada devia ser proibido que outros continuem a publicar histórias com os seus heróis.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Mudanças

 Mudanças por Mo Yan


Uma vida que acompanha o evoluir da sociedade chinesa no último quartel do século XX. O crescimento económico  a urbanização, a explosão das cidades, a prosperidade material, a modernização tecnológica  tudo perpassa neste romance de tons autobiográficos.

As mudanças políticas, o fim das comunas, o pragmatismo económico, a guerra com o Vietname, são nítidas e têm consequências na vida dos personagens. Algo, contudo, permanece. A via informal, a corrupção, o nepotismo e o amiguismo, os casamentos arranjados pela família e por interesse.

A cultura é sempre mais difícil de mudar. É esta cultura, com os seus defeitos tão abertamente assumidos,  que provavelmente vai ser o maior travão ao crescimento deste grande país cuja revolução já foi farol e esperança para tantos no mundo. A sociedade moderna é incompatível com o lado “mafioso” da cultura chinesa. A Itália do Sul que o diga.

Um bom livro. Mas não foi seguramente por este texto que Mo Yan recebeu o Prémio Nobel.


sábado, 15 de dezembro de 2012

D. Maria I

D. Maria I por Jenifer Roberts


D. Maria atravessou tempos tumultuosos mas não esteve à altura dos desafios que enfrentou. Assistiu à independência dos Estados Unidos com a sua República democrática, foi contemporânea da Revolução francesa, sofreu com o Terramoto de 1755, presenciou a subida ao poder do Marquês de Pombal, mas quando subiu ao trono negligenciou o desenvolvimento económico, desinteressou-se pelo governo do país, que durante anos foi assegurado por apenas dois ministros, restituiu o poder à Igreja e à alta nobreza e reabilitou os condenados da conspiração dos Távora.

Educada como princesa, mas não como Rainha, isto é sem os ingredientes, político, estratégico e económico, indispensáveis a um Chefe de Estado, casada com um tio (D. Pedro irmão de seu pai o Rei D. José I), a sua personalidade frágil e extremamente permeável a uma religiosidade extremada acabou por sucumbir aos reveses da vida, remorsos pelas perseguições aos jesuítas levadas a cabo no Reino de seu pai, que ela acreditava estava já no Inferno, pela morte dos filhos, entre os quais o príncipe herdeiro vitima já adulto de varíola. Acabou por enlouquecer e a regência do Reino ser entregue, num momento em que o seu marido/tio já tinha morrido, ao seu filho, futuro Rei D. João VI.

Foi já louca que seguiu de barco para o Brasil aquando das invasões francesas para as quais não soubera preparar o país, criando as condições que permitissem a defesa de Portugal. Foi no Rio de Janeiro que acabou por falecer.

Um retracto de uma Rainha incompetente, que sem querer, tanto mal causou ao seu próprio país.


domingo, 9 de dezembro de 2012

Ode Marítima

Ode Marítima por Álvaro de Campos

Um paquete que passa desencadeia na alma do poeta uma roda de sensações e reflexões, que sobem de tom, culminando numa exaltação delirante, doentia e  masoquista, para logo se desvanecerem acabando numa imobilidade triste e insatisfeita presa à realidade concreta do real.

Na grande aventura marítima  e a pirataria incorpora todos os ângulos dessa saga marinheira, Álvaro de Campos funde-se simultaneamente com carrascos e vítimas, com violadores e violados, com assassinos e assassinados, com a fúria e o medo, e cristaliza essa estranha união na dor. Dor física do moribundo, dor eterna de Prometeu.  A dor procurada, querida, o culto do sacrifício voluntário, sem sentido nem honra, nem esperança.

Típico do espírito da época de guerras em que foi escrito, um espírito que conduziu a regimes odiosos na Europa e que a transportou para um segundo confronto – o mais mortífero e sanguinário de toda a História Humana.