domingo, 30 de março de 2014

A Queda do Euro

A Quedo do Euro por Jens Nordvig


O Euro nasce de uma decisão política com pouca ou nenhuma aderência à realidade económica subjacente, resiste em período de bonança e crescimento, mas treme com a primeira crise que tem de enfrentar. Eis a tese controversa deste economista dinamarquês e o principal analista económico do poderosa casa financeira Nomura.

Preso por arames, criando mais problemas do que aqueles que resolve o Euro encontra-se, segundo este autor, numa encruzilhada. Pode desintegrar-se, pode dotar-se das instituições políticas de suporte e integração europeia, pode manter-se tal como está gerando pobreza nas periferias e descontentamento, pelos sucessivos resgates necessários, no centro.  Nordvig discute as diversas formas de desintegração possível desde as mais ordeiras às mais desordenadas, desde a saída de um ou mais países periféricos de pequena expressão (Chipre) até à saída nos países centrais (Alemanha, Holanda, etc.).  Discute também o preço da saída do Euro, afinal não tão catastrófico como alguns políticos defendem. A hipótese preferida dos mercados é a da maior integração política, orçamental e regulamentar, mas Nordvig pensa que não existem condições políticas para promover tal caminho.

Um livro indispensável para perceber as opções que se colocam à moeda única europeia.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Lady S. - Pour la peau d'une femme – de Jean van Hamme e Philippe Aymond

Lady S. - Pour la peau d'une femme 

de Jean van Hamme e Philippe Aymond


Van Hamme é um dos argumentistas veteranos da banda desenhada belga mais galardoados. A ele se devem series bem populares como Thorgal, que criou com o ilustrador Grzegorz Rosinsk, XIII que assinou com William Vance e Largo Winch.

A série Lady S., com desenhos de Philippe Aymond. é um dos seus mais recentes trabalhos, o primeiro álbum, Na zdorovié, Shaniouchka, saiu em 2004 e o último, o nono, Pour la peau d'une femme, em 2011.

Trata-se de uma série de acção com trama de espionagem mas muito transparente e linear evolvendo os serviços secretos de vários países. Neste álbum, franceses, duas facções, e russos degladiam-se para matar a jovem Shania Rivkas enquanto ingleses e norte-americanos se juntam para a proteger.

O Cavaleiro da Armadura enferrujada

O Cavaleiro da Armadura enferrujada por Robert Fisher


A história de um cavaleiro aprisionado no interior da sua armadura e a sua busca da libertação.

Nessa longa jornada tem de atravessar a Floresta do Inconsciente, beber o líquido da Vida e de passar por três castelos que lhe tolhem a passagem. O Castelo do Silêncio, onde é confrontado com o medo da solidão mas em que pôde descer ao mais profundo de si, o Castelo do Conhecimento, em que o auto-conhecimento é a chave para sair da escuridão e, finalmente, o Castelo da Querer e da Ousadia.

Ultrapassados estes obstáculos resta-lhe subir a íngreme ladeira que dá acesso o cume da montanha. Liberto da armadura, que enferrujada, se foi desprendendo e caindo ao longo do caminho, o cavaleiro encontra a sua felicidade e equilíbrio. 

Uma defesa do caminho da autenticidade, da sinceridade, da assunpção do nosso verdadeiro Eu, seja lá isso o que for, como única via para a felicidade plena na vida.

Uma leitura ligeira, ingénua, moralista, de tom maravilhoso e laivos de auto-ajuda, em que os animais falam e Merlin, o Mágico, está ainda vivo.  

Parafraseando uma reivindicação muito comum das livrarias da internet “Quem gosta dos livros de Paulo Coelho, também gostará desta obra de Robert Fisher”.

domingo, 23 de março de 2014

O Leitor de Bernhard Schlink

O Leitor de Bernhard Schlink


A relação entre uma guarda de um campo de extermínio alemã, responsável por seleccionar as mulheres que periodicamente eram enviadas para a morte e um jurista alemão.  Uma relação profunda e atribulada que o leva a ler-lhe os clássicos da Literatura em voz alta, primeiro presencialmente e depois que ela foi condenada a prisão perpetua a gravar a leitura e enviar-lhe as cassetes.

O livro apresenta a assassina a uma luz positiva, como vitima da sua vergonha pela condição de analfabeta e pelas erradas decisões morais que o leitor vai tomando ao longo da vida para com ela. Mas podem as culpas de um apagar os grandes crimes de outro? Eis o que pretende Schlink. Tornar a criminosa em dupla vitima  e com isso relativizar os seus pecados. Mas a correta resposta à pergunta é não. Não é possível esquecer o horror dos campos da morte, nem contrabalança-los com uma traição, nem justifica-los com um qualquer complexo de analfabetismo.

Este livro é no fundo uma tentativa subtil e inteligente de branquear os horrores cometidos pelos alemães durante a II Grande Guerra  e revela a ambivalência com que os alemães vêm o passado do seu país durante o período em que foram governados dos Hitler.

domingo, 16 de março de 2014

Guerra e Marginalidade

Guerra e Marginalidade por Luís Alves da Fraga

O envio de tropas portuguesas para França, para as trincheiras da linha da frente, combater pelos Franceses contra os Alemães encontrou enorme resistência quer em Portugal quer nas próprios soldados que foram enviados para a Flandres francesa.

Com uma liderança incompetente, pobremente fardados,  mal alimentados os soldados portugueses foram dizimados nas trincheiras, derrotados em La Lys.  Esfomeados, os soldados portugueses roubaram batatas e nabos ao agricultores locais, gelados e mal calçados furtaram roupa interior, camisolas, ceroulas e botas nas casas aos civis franceses. Contra oficiais arrogantes que lhes batiam revoltaram-se várias vezes.  Face a uma guerra que não desejavam, e que alguns apelidavam de imperialista, desertaram, amotinaram-se, recusaram-se a morrer em combate,

Por estas acções foram reprimidas com brutalidade pelas hierarquias militares. Primeiro com a prisão de centenas de soldados e depois, já desesperados por não conseguirem liderar os seus próprios compatriotas, metralhando e matando os insubmissos.

A presença militar portuguesa na primeira Grande Guerra foi a todos os títulos desastrosa: incapaz no plano militar não conseguiu, por isso, ganhos políticos na mesa das negociações da rendição dos alemães e seus aliados austríacos. No final apenas uma dívida externa colossal que mais nos aproximou dos vencidos do que dos vencedores.

sábado, 8 de março de 2014

Mário e o Mágico

Mário e o Mágico de Thomas Mann

Numa pequena aldeia piscatória italiana transformada em estação veraneante as férias de verão estão a terminar, os italianos a regressar às cidades e os estrangeiros a vagar os hotéis, quando chega o mágico Cipolla.  

A sala de espectáculo enche-se de publico para ver os prodígios deste homem. Entre o público está Mário, um jovem humilde empregado de mesa. O mágico é na verdade um extraordinário hipnotizador capaz de impor a sua vontade a qualquer um, mesmo os mais renitentes, são obrigados a fazer o que lhes ordena.

Dominando totalmente a plateia pelo seu verbo fácil, pela força da sua personalidade o Mágico leva Mário a humilhar-se para gáudio da plateia que se sente cada vez mais intimidada e submetida. A resposta do jovem se bem que terrível é sentida por muitos como libertadora.

Thomas Mann volta aqui a abordar, sem bem que indirectamente, a diferença entre os latinos a que chama meridionais e os nórdicos em que se inclui. O carácter racista da comparação é bem evidente, já que os meridionais são descritos se pertencentes às classes laboriosas como ingénuos, manipuláveis, subservientes, palavrosos, falando com bonitos, mas ocos, floreados, se pertencentes às classes altas como arrogantes e prepotentes (o narrador é expulso do seu quarto de hotel devido a uma queixa da sua vizinha amedrontada com a possibilidade de contagio de uma doença já debelada).

Alguns críticos vêm neste conto uma metáfora critica ao fascismo italiano. Mas é preciso imaginação para o fazer, já que em momento nenhum o autor lança a mais pequena pista sobre essa possibilidade de leitura. Uma leitura claramente forçada. O que fica sem dúvida é forma preconceituosa como Mann, e com ele muitos alemães, vê os povos do Sul.