quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

União Nacional



União Nacional por Francisco Nobre Guedes

Francisco Nobre Gudes foi um dos primeiros dirigentes da União Nacional o braço político civil da ditadura salazarista. Este opusculo é a reprodução da conferência que proferiu no Centro de Estudos Corporativos em 1936. A publicação era “reservada ais membros das brigadas doutrinadoras da U.N.

É um texto com elevado valor histórico pelo que nos permite compreender desta organização política totalmente controlada pelo ditador, mas que nunca teve a importância de partidos políticos como o Partido Fascista em Itália ou o PNSA na Alemanha. Na verdade enquanto nesses países o fascismo organizou-se em partido com vista a tomar o poder em Portugal Salazar toma as rédeas do Governo a partir de um golpe militar.

Assim não é de admirar que a União Nacional seja constituída de dentro para fora, i.e. das estruturas do Estado para a sociedade civil “Com um comando sem faculdades de actuação suficiente, não é de estranhar a maneira como foi estabelecida a primeira rede de Comissões locais. Na totalidade, pode dizer-se, foram compostas pelos Governadores Civis”.

Por outro lado as sua subordinação completa ao Governo retirava-lhe margem de manobra, mesmo nas menores questões locais “Imaginemos que o Ministro do Interior nomeou um Governador Civil de qualquer modo estranho à U.N.. A atitude desta não pode ser outra senão a de perfeito acatamento, e o Governador nomeado deve receber das Comissões locais todo o apoio possível”.

Outra diferença notória é a inutilidade de formar um partido de massas quando já se está fortemente entrincheirado no Poder, altura em que o importante é recrutar as elites “A nossa política é fundamentalmente política de qualidade; esta, sim, que é a primeira razão”.

Em resposta às críticas dos que pretendiam fazer dela um espelho dos partidos-irmãos explica “Em primeiro lugar, em Itália e na Alemanha o «partido» tem uma missão superiormente determinada, de que lhe advêm atividades responsáveis, que não sofrem comparação com as que tem a União Nacional; em segundo manda o nosso bom senso que se reconheça que o povo italiano de hoje, e o povo alemão de sempre, não são em matéria de disciplina e compreensão política, o que é o povo português, por enquanto”.


Um texto relevante para a compreensão do papel da União Nacional no desenho institucional do Estado fascista português de António Salazar.