quarta-feira, 30 de maio de 2018

A Questão Palestina

O essencial sobre a Questão Palestina

A Palestina pertencia até ao final da I Grande Guerra ao Império Otomano (hoje Turquia). Com a derrota grande parte dos territórios do Império turco no Médio Oriente foram apropriadas pelos império francês e inglês. A Palestina ficou sob controlo inglês.

O projeto sionista foi uma reação de um grupo marginal de judeus que face às perseguições de que eram vítimas na Europa procuraram encontrar um local seguro onde pudessem encontrar refugio. Depois de muita hesitação escolheram a Palestina, terra habitada na altura por uma esmagadora maioria de árabes de fé muçulmana e cristã. Com a cobertura dos ingleses os judeus europeus foram sendo expulsos dos seus países de origem e enviados para a Palestina, mas mesmo na véspera da Independência de Israel os judeus eram apenas uma minoria.

Uma cultura onde o cultivo da oliveira, a produção de azeite, o apego à família e à terra são traços dominantes, coloca os palestinos numa situação de grande proximidade com o povo português que se revê em muitas destas características.

As atrocidades cometidas, os massacres perpetrados, o roubo sistemático de terras, a expulsão dos árabes muçulmanos e cristãos é sobre essa realidade que repousa o Estado de Israel, enquanto os palestinos continuam a resistir à ocupação da sua própria terra.

Hoje mais de 5 milhões de palestinos são refugiados, três gerações nasceram e cresceram em campos longe das suas casas e terras, mas as famílias palestinas continuam a guardar as chaves das suas casas com a certeza de que as irão reaver no futuro. É esta esperança de Justiça que os une face à terrível adversidade que é o seu dia-a-dia.

A geografia, as guerras, a cultura do heróico povo Palestino que sem armas nem apoios internacionais resiste à mais de 70 anos à ocupação estrangeira do seu país.

Editado pelo Movimento pelos direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) como forma de levar o conhecimento da Questão da Palestina ao maior número de pessoas o livro tem conhecido considerável difusão. Recorde-se que o MPPM é uma associação não partidária e não-governamental (ONG) portuguesa acreditada pelo Comité da Organização das Nações Unidas (ONU) para o exercício dos direitos inalienáveis do Povo Palestino e a maior, mais ativa e mais séria organização de defesa da Palestina em Portugal.

Um livro indispensável para quem quiser conhecer a Questão Palestina. De maneira simples, objetiva e clara conta-nos a história da Palestina e a Catástrofe que sucedeu à chegada dos colonos judeus.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

A Tábua de Flandres


A Tábua de Flandres de Arturo Pérez-Reverte

Um romance policial que procura através de um jogo de xadrez associado a uma pintura flamenga do século XV manter o leitor em suspense à espera que a próxima jogada nos aproxime da descoberta do assassino.

Um quadro de Pieter van Huys encerra uma mensagem escondida denunciando o assassino de um cavaleiro da corte de Ostemburgo, um pequeno ducado situado entre a Borgonha e a França de então.

Mas o que era um simples problema de análise retrospetiva para descobrir quem comeu o cavalo de num jogo de tabuleiro partida de xadrez transforma-se numa saga para descobrir um assassino em série que vai deixando uma série de pistas na forma de movimentos de xadrez.

Excessivamente descritivo, repleto de erros quer de xadrez, quer de história, o livro conseguiu considerável divulgação entre os leitores de língua espanhola, tendo mesmo sido realizado um filme com base na sua trama.

De facto van Huys (1519-1584) viveu quase 100 anos depois de a Borgonha estar completamente submetida ao reino de França depois da derrota de Carlos o Temerário em 1477 na batalha de Nancy. O seu estilo próximo de Bosch era muito diferente do evidenciado pelo quadro descrito no livro.

Por outro lado as jogadas de xadrez são consideradas de um nível de qualidade muito baixa e envergonhariam mesmo jogadores principiantes.

Temos, enfim, um best-seller, que, como muitos outros e mau grado revelar um escritor talentoso, fica muito aquém da qualidade literária que se poderia esperar.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

A ordem do dia


A Ordem do dia de Éric Vuillard

Um livro extraordinário que nos relata os dias em que os líderes franceses e ingleses procuravam uma política de aproximação à Alemanha nazi que então se preparava para anexar a Áustria ao mesmo tempo que expõe de forma clara a íntima relação de apoio dos maiores conglomerados económicos alemães ao Führer e as vantagens que daí puderam retirar, nomeadamente em termos de trabalho escravo.

Incomodo para a empresas expostas, entre elas colossos como a Opel, Krupp, Siemens, IG Farben, Bayer, Allianz, Telefunken, Agfa, BASF e Varta, inoportuno para os atuais dirigentes europeus que vêm em silêncio a ascensão ao poder da extrema-direita em vários países da União e que promovem milícias fascistas na Ucrânia e na Síria, esta obra excecionalmente bem estruturada, escrita numa linguagem fluida, alicerçada em parágrafos longos mas claros e diretos, recreando episódios reais, consegue estabelecer no leitor uma segura empatia com as vítimas e um forte clima emocional que, porém, não descola do racional.

Rompe com o dogma que perpassa pela literatura ocidental dos últimos quarenta anos que proíbe os escritores de falar de temas políticos ou sociais sob pena de as suas obras serem imediatamente acusados de panfletários e desclassificadas enquanto literatura.

Sobre Gustave Krupp escreve “Durante anos, contratara deportados em Buchenwald, em Flossenburg, em Sachsenhausen, em Auschwitz e em muitos outros campos ainda. A sua esperança de vida era de alguns meses. Se o prisioneiro escapava às doenças infeciosas, acabava por morrer literalmente de fome. Mas Krupp não era o único a contratar tais serviços. Os seus comparsas da reunião de 20 de fevereiro beneficiaram também dele; por detrás das paixões criminosas e das gesticulações políticas, os interesses de todos eles eram assim acautelados. A guerra tinha sido rentável. A Bayer arrendou não de obra em Mauthausen. A BWM contratava em Dachau, em Papenburg, em Sachsenhausen, em Natzweiler.Struthof, e em Bichenwald. A Daimler, em Schirmeck. A IG Farben recrutava em Ravensbruck, em Dachau, em Mauthausen, e explorava uma fábrica gigantesca no campo de Auschwitz; a IG Auschwitz, que com todo o impudor surge com esse nome no organigrama da empresa. A Agfa recrutava em Dachau. A Shell, em Nueungamme. A Schneider, em Buchenwald. A Telefunken, em Gross-Rossen e a Siemens, em Buchenwald, em Flosenburg, em Neuengamme em Ravensbrucke, em Sachsenhausen, em Gross.Rosen e em Auschwitz. Todos se tinham precipitado sobre a mão-de-obra barata. Não é pois Gustav que naquela noite tem alucinações, no meio do repasto familiar, são Bertha e os filhos que se recusam a ver. Porque os mortos estão de facto ai, presentes na sombra”.

Éric Vuillard é um escritor e cineasta francês curiosamente nascido em Maio de 1968.

Este livro, que venceu o Prémio Goncourt de 2017 vale, seguramente, um Prémio Nobel se o autor viver o suficiente para chegar à idade em que o Prémio costuma ser atribuído.