A Segunda Espada de Peter Handke
O esmagador e angustiante peso da solidão na sociedade moderna, uma viagem pelos arrabaldes de Paris, na Île-de-France, onde vivem as classes populares, os deserdados e os imigrantes. Por onde os transportes ziguezagueiam transportando multidões cansadas, sombrias rumo à estação terminal. Uma expedição em busca de uma vingança, finalmente obtida com uma segunda espada.
Um português, “um pedreiro, que diferentemente de hoje, muitas vezes tem o cabelo cheio de pó de cimento”, “homem de tranquilos olhos abertos, sem olhar para nada, imperturbável, senão para a clareira, para a ampla superfície de cascalho” é um exemplo da desolação desta paisagem parada agreste, vazia de sentido. Outro homem, na em plena festa na estalagem grita “fica comigo, suplico-te”. As pessoas apinham-se nos autocarros, nos comboios, partilham as paragens, cruzam-se na rua, mas não se reconhecem, não se falam, não se veem, estão sós – “Melhor ser condenado definitivamente do que não repararem em nós”.
Um livro triste e melancólico, simultaneamente terno e esperançoso, que traduz admiravelmente a vivência humana contemporânea nos subúrbios das grandes cidades europeias.
Peter Handke (n. 1942), escritor e realizador austríaco, venceu o Prémio Nobel de 2019.


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