domingo, 28 de novembro de 2021

Atos Humanos

 

Atos Humanos

 

Um livro que nos arranca um olhar quase lírico mas doloroso e em lágrimas sobre  uma realidade atroz, dura e nos leva a perceber as vidas por trás dos cadáveres, as dores por trás de vidas aparentemente banais, os efeitos prolongados da brutalidade policial, das matanças políticas, da repressão criminosa.

Em 1980 em Gwangju um movimento pró-democracia de jovens operários e estudantes foi selvaticamente reprimido pelo exército. Esse é o pano de fundo deste livro. Não é contudo um relato histórico sobre os acontecimentos de então, mas uma dissecação minuciosa das matanças, das prisões, das torturas e dos seus efeitos nas vitimas, nas famílias, nos amigos. O peso, a culpa e a amargura dos sobreviventes, as tormentas dos que morreram, o horror dos atos humanos.

O livro em sete capítulos segue o rasto de Dong-Ho, uma criança que frequenta o liceu local, e de alguns que acompanharam a sua vida durante a revolta.

Han Kan (n. 1970) é uma muito talentosa escritora sul-coreana. O seu livro “A Vegetariana” foi galardoado com Man Booker Prize Internacional, talvez o galardão literário mais importante no ocidente depois do Nobel. Um livro que seguramente vai valer à sua autora o Prémio Nobel.


domingo, 21 de novembro de 2021

Sob Céus Vermelhos

Sob Céus Vermelhos

 

A autobiografia romanceada da própria autora, Karoline Kan. Nascida numa aldeia da China, migrante para uma cidade de província, estudante na Universidade de Pequim e finalmente jornalista para jornais estrangeiros.

Com mestria Karoline Kan faz desfilar diante dos nossos olhos o vertiginoso desenvolvimento chinês. Nascida em 1989, ano da repressão em Pequim de um movimento contrarrevolucionário até aos nossos dias – o livro foi publicado em 2019. Vemos a espantosa progressão económica que transforma materialmente o país e a dificuldade de adaptação das mentalidades que vão sempre atrás.

O livro, contudo, poderia bem chamar-se A Ingrata, porque mesmo assistindo, participando e beneficiado do mais rápido crescimento económico que o planeta alguma vez assistiu e que tirou o país do feudalismo e o transformou na maior economia do mundo, mesmo vendo centenas de milhões de chineses a sair da pobreza absoluta e a entrar na classe média numa equilibrada distribuição da riqueza, Karoline prefere fazer a apologia do capitalismo e atacar o socialismo.

Fica patente na escrita de Kan, na sua adoção de um pseudónimo estrangeiro e em muitas passagens um grande provincianismo.

O seu desprezo pelo seu próprio país fica bem patente ao longo do livro, o seu desprezo pelo Partido Comunista, em que militam o seu avô e o seu tio também, embora seja graças ao apoio dos dois que chegou à sua atual posição de privilégio.

Um livro interessante mas que no plano moral mostra a verdadeira cara da autora. E não é uma cara bonita. Não é exemplo a dar às crianças.