terça-feira, 28 de outubro de 2025

Astérix en Lusitanie / Astérix na Lusitânia


 

Astérix en Lusitanie / Astérix na Lusitânia

 

As idiossincrasias nacionais, a língua portuguesa com as suas palavras terminadas em “ão” e “inho”, o fado, a gastronomia à base de peixe e bacalhau, a economia dominada por empresas estrangeiras, a tristeza e a saudade como sentimentos predominantes, a fisionomia, tudo está aqui condensado e apresentado de forma bem-humorada e agradável.

A nossa história com o episódio de Viriato a ser traído pelos seus amigos, a Lisboa de outrora com o seu nome antigo, Olissipo, surgem como referências culturais do nosso povo.

Uma aventura cheia de voltas e reviravoltas em que os nossos heróis vêm a Portugal, perdão à Lusitânia, e conseguem provar a inocência do lusitano injustamente preso e acusado de uma tentativa de assassinar Júlio César.

Recentemente publicado em francês e português. Para que possa a versão em francês é melhor, já que na tradução se perdem algumas das subtilezas do humor do texto.  

Um álbum que nos faz regressar aos velhos tempos de Goscinny e Uderzo, apesar de ter argumento de Fabcaro e desenhos de Didier Conrad. Um dos melhores livros dos publicados após o desaparecimento dos criadores originais destes dois heróis da banda desenhada francesa.

 


domingo, 19 de outubro de 2025

A Segunda Espada

 

A Segunda Espada de Peter Handke

 

O esmagador e angustiante peso da solidão na sociedade moderna, uma viagem pelos arrabaldes de Paris, na Île-de-France, onde vivem as classes populares, os deserdados e os imigrantes. Por onde os transportes ziguezagueiam transportando multidões cansadas, sombrias rumo à estação terminal. Uma expedição em busca de uma vingança, finalmente obtida com uma segunda espada.

Um português, “um pedreiro, que diferentemente de hoje, muitas vezes tem o cabelo cheio de pó de cimento”, “homem de tranquilos olhos abertos, sem olhar para nada, imperturbável, senão para a clareira, para a ampla superfície de cascalho” é um exemplo da desolação desta paisagem parada agreste, vazia de sentido. Outro homem, na em plena festa na estalagem grita “fica comigo, suplico-te”. As pessoas apinham-se nos autocarros, nos comboios, partilham as paragens, cruzam-se na rua, mas não se reconhecem, não se falam, não se veem, estão sós – “Melhor ser condenado definitivamente do que não repararem em nós”.

Um livro triste e melancólico, simultaneamente terno e esperançoso, que traduz admiravelmente a vivência humana contemporânea nos subúrbios das grandes cidades europeias.

Peter Handke (n. 1942), escritor e realizador austríaco, venceu o Prémio Nobel de 2019.