Uivo por Allen Ginsberg
Editado
em 1957 o livro de “Uivo e outros poemas” foi a primeira obra, e talvez a
melhor, de Allen Ginsberg. Foi recebida com um misto de aclamação pelo seu
grupo de amigos e de indignação pelos puristas académicos e pelos conservadores
auto proclamados defensores dos bons costumes e da (falsa) moral pública.
Este
últimos intentaram uma acção judicial contra o editor e contra o autor, pedindo
a interdição de venda do livro, por obscenidade. Centenas de exemplares foram
confiscados ao sair da tipografia e o empregado de uma livraria que vendia o
livro foi preso. O editor também foi preso. No final o Supremo Tribunal da
Califórnia deu razão a Ginsberg e aos defensores da liberdade de expressão.
Uivo
é um poema sobre a sua geração, sobre “as mentes mais brilhantes da minha
geração” levadas ao desespero e à loucura por uma sociedade capitalista, dura,
materialista, repressiva, despojada de valores humanos que nada tinha para lhes
oferecer. Uma sociedade “cuja alma é electricidade e bancos” caminhando para a
guerra nuclear, “cujo destino é uma nuvem de hidrogénio assexuado”. Uma
sociedade que enlouquece e confina os a hospitais como o de Rockland. Um poema
de versos longos e livres, que nos leva aos infernos da droga, da pobreza, da
repressão, da loucura, do desespero, mas que é simultâneamente muito humano,
sentido e vivido.
Dos
restantes 9 poemas, insertos na edição da Relógio d’Água, realço “América” um
texto violentamente crítico da sociedade norte-americana, em que o poeta se
dirige ao seu país, “América eu dei-te tudo e agora não sou nada”, apresentando
uma longa lista de pedidos utópicos, porque sobre causas passadas, “América
liberta o Tom Mooney/ América salva os republicanos espanhóis / América o Sacco
e o Vanzetti não podem morrer”, explicando a sua posição (“América eu tenho um
fraco pelos movimentos operários do mundo / América eu fui comunista quando
miúdo e não me arrependo) e as suas dores (Eu não suporto a minha própria mente)
e acaba desmistificando a propaganda belicista contra a Rússia (“A Rússia quer
comer-nos vivos. O poder da Rússia é de loucos. / Quer tirar-nos os nossos
carros das nossas garagens. / As ganas dela de fisgar Chicago) perguntando “América
isto é correcto?”. Esta paranóia parece que ainda não passou.