Portugal e o Atlântico por Bernardo Pires de Lima
Um ensaio confuso, desorganizado, irrealista, propagandista e no fundo gerado por uma identidade baralhada e mal resolvida.
Se é verdade que um país não pode alterar a
sua posição geográfica e que, consequentemente, tem de enfrentar algumas
realidades geopolíticas que o constrangem, no caso das pessoas existe uma maior
latitude de ação. Quem não gosta da nacionalidade que os seus antepassados lhe
legaram por herança irrecusável pode ser procurar uma nova nacionalidade que o acolha e
que suscite a sua maior lealdade. Vem isto a propósito da identidade baralhada
de Bernardo Pires de Lima (BPL). A maioria das vezes fala como norte-americano
e por vezes utiliza a expressão “nós” para se referir aos portugueses. É um
problema que um bom psicólogo pode ajudar a resolver.
BPL defende que os EUA devem dar mais atenção
ao Atlântico e arrefecer o seu entusiasmo pelo Pacífico mostrando que este é turbulento
e que no Atlântico é que se encontram as grandes oportunidades do futuro. Neste
sentido o livro é claramente eivado de um patriotismo extremo em que só falta o
autor se por em sentido e cantar o “The Star Spangled Banner”. Veja-se como
fala dos EUA “O grande desafio será
transformar esse papel de produtor no de exportador e com isso projetar a
máxima força através dos oceanos Atlântico e Pacífico” ou mais á frente “áreas em que os EUA e a EU, por serem o
maior bloco económico, podem afirmar padrões comuns impondo-se ao resto mundo”.
Note-se o termo revelador “impondo”. Neste capítulo BPL defende que a China se
vai tornar agressiva e vai entrar em conflito com os seus vizinhos,
aconselhando os EUA a formar coligações militares contra (a expressão que usa é
“conter”) este país. Argumenta que o Atlântico é uma alternativa mais
promissora e que é aqui que os EUA devem apostar mais afundo, nomeadamente
forçando a União Europeia a assinar um acordo de liberalização comercial (o
TTIP).
Depois entra num confuso delírio comercial sobre
Portugal procurando vender-nos o TTIP e o Atlântico e as oportunidades com o
Brasil, e a Africa, as vantagens da nossa plataforma marítima, tudo misturado
sem critério e sem lógica e, acima de tudo sem sentido nem coerência. É a fase
da triste figura e dos sonhos da mirifica Universidade Transatântica nos Açores
financiada por fundos privados, das vantagens do TTIP para Portugal, dos país
transformado num hub para trocas entre os vários lados do Atlântico.
BPL parece não se dar conta que o comércio
entre os vários lados do Atlântico já é extremamente forte e que não passa por
Portugal e que por ser já grande o espaço para crescer não é muito, exatamente
o que não se passa no Pacífico onde o comércio ainda está a níveis
relativamente baixos e em que há grande espaço de crescimento. Também não se
apercebe que Portugal, aprisionado na teia da EU, não pode sequer desenvolver
acordos comerciais com o Brasil (porque essa é uma competência exclusiva da
comissão europeia e os estados membros não podem assinar acordos comercial com
países terceiros) que permitam desenvolver os laços económicos.
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