domingo, 4 de junho de 2017

Coisas que só eu sei




Coisas que só eu sei

Camilo Castelo Branco (1825-1890), primeiro escritor profissional português, é autor de numerosos contos, novelas e romances, num total superior a 260 títulos.

Coisas que só eu sei é uma novela datada de 1853 originariamente publicada no jornal “O Portuense” é um melodrama amoroso que envolve personagens das várias classes sociais do Portugal novecentista, desde a nobreza, a burguesia africanista, do intelectual diletante à prostituta e que nos permite de algum modo retratar, ainda que parcialmente, sociedade portuense da época.

Pequenos apontamentos revelam hábitos gastronómico-sociais (“que saíste do teatro e entraste no Águia de Ouro a comer ostras, segundo o costume dos elegantes do Porto”), de namoro e decoro, as formas de fugir às imposições matrimoniais familiares (“Disse-me que fugisse de casa, pela porta da desonra, e muito cedo entraria nela com a minha honra ilibada”), os divertimentos das classes mais altas (os bailes de mascaras no Teatro de São João), a fome e a pobreza das classes populares (“privado dos escassos lucros de amanuense lutou com a fome”), a emigração (“conseguiram algumas moedas e com elas a passagem do pobre marido para o Rio de Janeiro”), a miséria a empurrar as jovens para a prostituição (“A indigência e a sociedade fizeram-lhe compreender que só há desonra na fome e na nudez”).

O livro reflete sobre vários temas como a educação das mulheres (“descreio na educação, lamento os anos consumidos no cultivo da inteligência”), a oposição entre talento (“o homem de talento é sempre um mau homem”) e sabedoria e o papel da mulher na sociedade. Em todas estes temas Camilo Castelo Branco assume uma posição conservadora e misógina.

Sobre as mulheres do seu tempo chega a escrever nesta novela “é mais fácil descobrir um novo mundo que uma mulher ilustrada. É mais fácil ser Cristóvão Colombo que Emílio Girardin”.

Sem comentários:

Enviar um comentário