Coisas que só eu sei
Camilo Castelo Branco (1825-1890), primeiro
escritor profissional português, é autor de numerosos contos, novelas e
romances, num total superior a 260 títulos.
Coisas que só eu sei é uma novela datada de
1853 originariamente publicada no jornal “O Portuense” é um melodrama amoroso
que envolve personagens das várias classes sociais do Portugal novecentista,
desde a nobreza, a burguesia africanista, do intelectual diletante à prostituta
e que nos permite de algum modo retratar, ainda que parcialmente, sociedade portuense
da época.
Pequenos apontamentos revelam hábitos gastronómico-sociais
(“que saíste do teatro e entraste no
Águia de Ouro a comer ostras, segundo o costume dos elegantes do Porto”),
de namoro e decoro, as formas de fugir às imposições matrimoniais familiares (“Disse-me que fugisse de casa, pela porta da
desonra, e muito cedo entraria nela com a minha honra ilibada”), os
divertimentos das classes mais altas (os bailes de mascaras no Teatro de São
João), a fome e a pobreza das classes populares (“privado dos escassos lucros de amanuense lutou com a fome”), a
emigração (“conseguiram algumas moedas e
com elas a passagem do pobre marido para o Rio de Janeiro”), a miséria a empurrar
as jovens para a prostituição (“A
indigência e a sociedade fizeram-lhe compreender que só há desonra na fome e na
nudez”).
O livro reflete sobre vários temas como a
educação das mulheres (“descreio na
educação, lamento os anos consumidos no cultivo da inteligência”), a oposição
entre talento (“o homem de talento é
sempre um mau homem”) e sabedoria e o papel da mulher na sociedade. Em
todas estes temas Camilo Castelo Branco assume uma posição conservadora e misógina.
Sobre as mulheres do seu tempo chega a
escrever nesta novela “é mais fácil
descobrir um novo mundo que uma mulher ilustrada. É mais fácil ser Cristóvão
Colombo que Emílio Girardin”.
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