A Oeste Nada de Novo de Eric Maria
Remarque
Um dos mais extraordinários livros que li até
a hoje. A vida e morte nas trincheiras alemãs da Primeira Grande Guerra.
Sabemos como é difícil traduzir por palavras
as grandes emoções, as mais fortes experiências emocionais e humanas, como
quando delas falamos sentimos que muito ficou por dizer, que o discurso falado
ou escrito não permite transmitir a vivência por que passamos. Os sobreviventes
dos recentes incêndios resumem na palavra Inferno a provação por que passaram,
mas pouco mais conseguem exprimir verbalmente.
Essa é a arte de Eric Maria Remarque a de nos
transportar para o interior das trincheiras enlameadas e cheias de ratos, para
o interior de buracos de obuses, para a frente de combate, nos fazer sentir o
medo, a angústia, a indiferença e a revolta do combatente, para nos irmanar com
aqueles que morrem por uma causa fútil a que são alheios.
As personagens que nos apresenta são jovens,
muitos com menos de 20 anos, atirados sem preparação para as primeiras linhas
onde são massacrados aos milhares. Estudantes, camponeses, operários, procuram
desesperadamente sobreviver aos ataques inimigos, aos bombardeamentos
contínuos, à fome persistente, às doenças, com esprito de entreajuda mas sem
esperança.
Os soldados falam das causas da guerra.
Oiçamos a sua voz “Mas lembra-te de que
somos quase todos do povo e em França a maioria é de trabalhadores, operários e
pequenos empregados. Porque é que um sapateiro, ou um serralheiro francês nos
quereria atacar? Não, são apenas os governos. Nunca vi um francês antes de vir
para aqui e o mesmo acontece com a maior parte dos franceses no que nos diz
respeito. Pediram-lhes tanto a sua opinião quanto a nós”. Outro soldado
pergunta “Porque há, então, a guerra?”
e alguém responde “Deve haver pessoas a quem
a guerra aproveita”. Todos concordam que “Está bem!, mas eu não sou dessas”.
Como tantas guerra que só aproveitam às
elites económicas e militares. Aos soldados resta “A trincheira, o hospital e a vala comum: não há outras alternativas”.
A carnificina ganha novos contornos á medida
que a guerra se aproxima do fim “Este
Verão de 1918 é o mais árduo e o mais sangrento de todos. Os dias são como
anjos vestidos de ouro e azul, impassíveis sobre o campo da destruição”. O
contraste entre a natureza vibrante do sol de ouro sob um céu perfeito e os
mortos no campo de batalha. “Nunca se suportou
em silêncio mais dores do que no momento em que se parte para as primeiras
linhas. Aparecem as falsas notícias, tão excitantes de armistício e de paz;
perturbam os corações e tornam as partidas mais molestas que nunca”.
E é a poucos meses da Paz que o nosso
soldado, depois de ter visto todos os seus amigos e a maioria dos seus colegas
de escola morrer no campo de batalha, recebe um tiro fatal num dia tão calmo
que o comunicado diário do exercito se limitou a assinalar que na frente “ oeste nada de novo”.
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