segunda-feira, 4 de março de 2024

Negritude e humanismo


 

Negritude e humanismo de Alfredo Margarido

 

Pequeno, mas profundo, ensaio crítico da obra de Jean-Paul Sartre O Orfeu Negro, em que este analisa o conceito de negritude. Margarido procede sistemático a cada um exame dos seis eixos com os quais o Prémio Nobel define a negritude: o racismo anti-racista, o sentimento do coletivismo, o ritmo, a conceção sexual, a comunicação com a natureza e o culto dos antepassados. Mostra que todos partem de conceções idealistas, a-históricas e procura explicar cada um destes eixos através das suas causas materiais mais profundas. Segue aqui uma metodologia e uma aproximação marxista clássica, com excelentes resultados.

 

Por exemplo, Margarido mostra como o culto dos antepassados, erigido em característica do povo Negro por Sartre, se desvanece com a introdução das relações de produção capitalista, ou o sentimento coletivista da família muito alargada se retrai, como também aconteceu na Europa, quando o regime de salário individual, que mal permite a sobrevivência de uma pequena família, o destruiu (só estava ligado à produção agrícola tradicional). Fica claro que, na verdade, são as condições materiais de existência que explicam o reino das ideias e dos costumes sociais.

  

Um pequeno ensaio indispensável para perceber a sociedade contemporânea.

 

Alfredo Margarido (1928-2010), pintor e poeta surrealista, sociólogo, pensador marxista, viveu a partir de 1964 em Paris, ensinando em diversas universidades. Publicou diversas obras quer em Português quer em Francês.

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