Demónios por Fiódor Dostoiévski
Numa Rússia czarista, fechada, conservadora, repressiva,
sufocada pelo jugo simultâneo da aristocracia no plano económico e da Igreja
Ortodoxa ao nível das ideias, uma geração jovem, educada e desocupada cresce
sem valores nem horizontes, sendo atraída por ideologias terroristas cujo único
propósito declarado é destruir os pilares da sociedade que odeiam.
Em tensão encontram-se três ideologias que se combatem. A
pedra de toque as funda e distingue é a relação com Deus. A ideologia
conservadora, encontra a sua justificação na Igreja Ortodoxa, cuja fé professa
na plenitude. Os liberais da primeira geração, gradualistas e reformadores,
cuja grande obra foi a libertação dos camponeses do regime de servidão,
simultâneamente opostos à tirania mas receosos de grandes transformações
sociais, eram tementes a Deus mas críticos da Igreja. Os niilistas ateus,
desiludidos pelas reformas que pouco ou nada mudaram e rejeitando todos os
valores morais, que vêm no caos e na destruição a única forma de actuação. Esta
é o confronto que este livro nos conta, através das suas personagens, cada uma
delas uma encarnação viva dos três grupos em liça.
Um livro actual que comporta muitas reflexões úteis num
Portugal em crise em que as novas gerações estão a ser empurradas para posições
niilistas pela incapacidade das elites de hoje de construir uma sociedade
equilibrada e justa.
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