Gente Pobre por Fiódor Dostoiévski
Gente Pobre foi a primeira novela de Dostoiévski e um grande
sucesso editorial. Considerado um dos primeiros romances sociais russos a
história exibe claros contornos naturalistas mesclados com uma sátira mordaz.
OS pobres aqui retratados são, de facto, a classe média baixa do funcionalismo
público do czarismo novecentista que vive de uma forma muito contida, sempre a
beira da completa miséria. Qualquer despesa extra, umas simples solas nas
botas, um capote roto que tem de ser substituído, e as finanças pessoais
desequilibram-se e a fome e o frio aliam-se para desferir o golpe de
misericórdia fatal.
Escrita na forma de uma troca de correspondência entre um funcionário
público de meia-idade e uma jovem sua prima e vizinha, a novela desvenda-nos as
dificuldades materiais dos personagens mas acima de tudo a sua psicologia, os
seus medos e esperanças. A valorização do aprumo acaba por traduzir-se em vergonha
pela roupa coçada e sem botões, a importância atribuída ao esmero no trabalho
esvai-se no erro grosseiro, o gosto pela vida intelectual é inquinada pela
troça literato.
Sempre com uma aguda e dolorosa consciência destes factos,
que descreve de forma satírica, ridicularizando-se, o personagem, masculino
desequilibra-se na vida, vê aproximar-se a desgraça, balanceia entre a
recuperação e a miséria e salva-se, como tanta gente pobre, graças ao acaso de
uma esmola do chefe e ao casamento da prima com um homem abastado.
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