A Dádiva por Toni Morrison
Nos finais do século XVII quando a América
começava a ser colonizada pelos europeus, quando os primeiros escravos chegavam
de África, quando os índios ainda viviam nas suas terras, quando a multidão que
haveria muito mais tarde de criar um país ainda se misturava de forma caótica formando
uma sociedade incipiente em que a Lei não predominava e as religiões rivalizam,
um português de nome espanhol tem de saldar as suas dívidas e uma mãe faz um
sacrifício supremo para defender os filhos, uma escolha dolorosa mas acertada.
Uma quinta de difícil sustentação gerida por
um homem e quatro mulheres formam um quinteto improvável, espelho da sociedade,
que procura encontrar a sua nesga de liberdade e felicidade, num mundo agreste,
de costumes bárbaros, natureza bravia e doenças mortais.
Todas as personagens carregam o pesado fardo
de um passado doloroso, cunhado pela adversidade, pelo trauma e pela esperança.
Como ultrapassar essa marca original? Como sarar essas lesões profundadas da
alma? Cada uma à sua maneira vai responder a este quesito sem que nenhuma delas
consiga um apaziguamento completo e definitivo.
De diversas proveniências todos confluem, de
forma violenta, como um embate telúrico, para criar uma nova realidade mais
feia e crua do que a anterior.
Quantas faces tem a escravatura? Pode alguém
sendo livre ser simultaneamente escravo de outrem? Como compreender atitudes
não explicadas? Como perceber a atitude de uma mãe que procura salvar os filhos
face aos perigos de um mundo impiedoso.
Uma escrita poética, uma cronologia de
acontecimentos enredada na complexa memória humana, uma história de
sobrevivência física e psicológica, de fortaleza moral e humana. Um final forte,
claro, inesperado e comovente.
Toni Morrisson (n. 1931) foi a primeira
mulher negra norte-americana a ganhar o Prémio Nobel da Literatura que lhe foi
atribuído em 1993. Só este livro já valia o Prémio.
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