História do Novo Nome de Elena Ferrante
O segundo livro da quadrilogia da misteriosa
escritora italiana Elena Ferrante conta-nos as aventuras e desventuras de duas
amigas nascidas e criadas num bairro pobre de Nápoles.
Numa Itália dos anos sessenta, o destino das
duas amigas parece bifurcar-se, com a ascensão pelo estudo de uma, com o
fracasso do casamento da outra.
No seu estilo arrastado, descritivo, parando
a miude para dissecar minuciosamente sentimentos e situações, Ferrante
mostra-nos um país regionalmente assimétrico, Nápoles repleta de bairros
pobres, Piza como cidade de estudantes, Milão como a cidade do intelecto e da
afluência económica.
Dos amigos de infância das duas cada um segue
um caminho diferente, a emigração para a Alemanha, a fábrica, o comércio, o
jornalismo, reproduzindo sonambulamente os passos dos seus pais. A presença
constante, próxima e ameaçadora da máfia napolitana, com o seu dinheiro e os
seus músculos.
As raparigas os seus namorados, casamentos
infelizes, desamores, num tempo em que o divórcio era proibido, em que se
casava ainda adolescente, em que a violência doméstica imperava, em que a
resistência e a modernização de costumes se fazia sob a égide do Partido
Comunista.
A amiga genial, com a sua inteligência viva,
com a determinação que sempre põe em tudo o que faz, com sua a capacidade
empreendedora, liberta-se de um casamento infeliz, mas é abandonada pelo amante
e, depois de um período de um certo desafogo económico, acaba numa fábrica de
salsichas, onde o assédio sexual é a norma e a exploração económica a regra e a
falta de condições se salubridade laboral o padrão.
A marcada diferença de classes é assinalada
pela vergonha de não se conhecer a etiqueta, pela forma de vestir, pelo domínio
do italiano, pelo sotaque regional, pelas maneiras em sociedade e à mesa pela ignorância
do uso dos vários talheres.
A marca de origem não se apaga facilmente
mesmo naqueles que pelo seu talento e esforço se erguem para além do que o seu
nascimento lhes reservou. Fortes travões invisíveis que não são fáceis de
ultrapassar.
O papel da mulher na sociedade italiana de
então marcada pela subalternidade, pela desigualdade, pela permissividade com
que encarados os abusos sexuais, surge das páginas deste livro como que saída
da Idade Média ainda que de um tempo em que muitos dos seus leitores já eram
nascidos.
Finalmente fica o interesse de seguir a
história destas duas amigas e da sua singular rivalidade.
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