Gosto disto aqui por Kingsley Amis
Nos anos 1950 um escritor da Grã-Bretanha descobre
Lisboa no decurso de uma estadia destinada a inspirar-se nos costumes locais e
a aferir a veracidade da identidade de um conterrâneo.
O nosso herói, um xenófobo que detesta o
estrangeiro de que só teve uma breve experiência ao serviço do exército, acaba
por ser empurrado para esta vigem a Portugal pela mulher, pela sogra e pela
perspetiva de um emprego fixo bem remunerado.
Chega a Portugal de barco, trazendo o carro,
acompanhado da mulher e dos três filhos pequenos, cumpre a sua missão no meio
de dúvidas existências pelo papel de espião-coscuvilheiro e regressa feliz para
o seu país onde gosta efetivamente de viver.
Em Portugal encontra um país dominado por
Salazar, de costumes estranhos “E por que
é que põem azeite em tudo?”, com uma culinária limitada “aqui as pessoas comem muitas sardinhas”,
praticando uma religiosidade exacerbada que descobre através de uma “expedição a Fátima, onde tinham decorrido as
festividades religiosas” e de uma pobreza por vezes chocante “barqueiro desdentado”.
Nessa época Amis confronta-se com um país em que
existe uma censura feroz mesmo sobre questões menores como um acidente
ferroviário “Só um jornalista deu essa
notícia imagino que poe descuido. Os nossos valentes polícias foram lá e
encerraram o jornal” e incapaz de construir as suas próprias
infraestruturas “Aquela bela estrada
nova, a leste de Lisboa, que conduz a Évora e Espanha – é uma estrada
americana. Destina-se a abastecer os exércitos da NATO em Espanha”.
E que dizer das elites económicas que depois
de obter fortuna se limitam “a gastá-la
com o maior espalhafato possível, enchendo a mulher e a amante de diamantes e
peles”, um grupo social composto de pessoas que “só trazem vergonha e ruína”.
Um regime caracterizado pela “presença de oficiais de Himmler e a ausência
de partidos políticos” e por uma imensa corrupção.
Com uma escrita escorreita e leve, um sentido
de humor inteligente e subtil, este livro de cariz autobiográfico retrata um
Portugal provinciano que levam o herói a regressar alegremente ao seu país e a
proclamar quando aí chegou “Gosto disto aqui” como contraponto à experiência
vivida em Lisboa e arredores.
Kingsley Amis é considerado um dos melhores
escritores de língua inglesa da segunda metade do século XX.
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