A Dolorosa Raiz do Micondó de Conceição Lima
Nos primeiros poemas a memória, o combate, a longa e dolorosa via para a libertação convoca a identidade coletiva, as múltiplas faces de um mesmo sofrimento às mãos de um colonialismo brutal e imoral. Ecoam na primeira pessoa do plural. Aqui se destacam o comovente “Canto Obscuro às Raízes” e o admirável “1953”. São as dolorosas raízes coletivas.
Depois o tom muda e torna-se intimista, regressando à infância, aos tempos “Quando eu não sabia que era eu”, viajando pelos cheiros, pela flora, pela fauna, pelos lugares que vamos descobrindo quando crescemos e que nos prendem para sempre à nossa terra, e as pessoas que povoaram o tempo de meninice, as tias, as primas, os familiares e conhecidos, as pessoas que nos fazem sentir seguros e amados, as pessoas a quem pertencemos. Aqui o poema escreve-se na primeira pessoa. São as agridoces raízes pessoais, individuais.
Estas duas raízes forjam a nossa identidade, criam-nos enquanto pessoas.
Na forma versos que de Camões a frásica estrutura amiúde guardam. Versos que fluem com força, com sinceridade, com alma e singela beleza e nos comovem primeiro e nos enternecem depois.
Conceição Lima (n. 1961) é uma poetisa e cronista são-tomense. Jornalista e produtora trabalhou nos Serviços em Língua Portuguesa da BBC.
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