Platero e eu de Juan Ramón Jiménez
O campo andaluz na sua simples placidez colorida e terna sob um céu azul cintilante - a natureza em todo o seu cálido fulgor, a tranquila meditação à sombra de árvores frondosas, a serena comunhão com a natureza, a maravilhada observação dos animais e insetos que povoam as zonas agrícolas.
Juan Ramón Jiménez maravilha-nos com a sua escrita em prosa poética, comove-nos com as descrições brandas, exatas e perspicazes, do mundo rural e das suas personagens. O seu companheiro, Platero, um burro “pequeno, peludo, suave, tão macio, que dir-se-ia todo de algodão”, acompanha o personagem e os textos são lhe dedicados.
As imagens surpreendem e encantam – “entra no regato, pisa a lua e fá-la em pedaços”, “no trigal amarelo e ondulante, gotejado do sangue das papoilas, que Julho coroava de cinza”, “aprisionado voo policromo”, “como ri em paz, clara e fria a nora do horto, como voam, na luz derramada as abelhas atarefadas em volta do alecrim verde e malva, róseo e dourado pelo sol que ilumina a colina”.
Seria um livro completamente maravilhoso não fossem dois espessos defeitos: i) o racismo contra os ciganos e contra os portugueses, os primeiros acusados de ladrões e os segundos também; ii) a cegueira, onde vê calma, paz, harmonia é na verdade o campo dos latifúndios e do infortúnio dos trabalhadores que aliás descreve como morrendo de tuberculose, como não tendo Natal, como andando descalços e esfarrapados.
Juan Ramón Jiménez (1881-1958), poeta espanhol, foi Prémio Nobel em 1956. Opositor ao regime franquista exilou-se nos Estados Unidos e viveu em Porto Rico, onde morreu.
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