As Origens da Ordem Política de Francis Fukuyama
Uma obra de grande fôlego. Uma história do processo político
desde a primitiva organização tribal até ao atual Estado moderno.
Na China apesar da precocidade do Estado centralizado,
poderoso e impessoal a prevalência do Direito nunca se efetuou. Nalguns países da
Europa a “excessiva” democracia entre os nobres impediu centralização do poder.
Noutros o Estado em vez de uma burocracia impessoal, baseada na meritocracia,
tornou-se um feudo de famílias poderosas, com o Rei a vender os cargos públicos
e a torna-los hereditários. Na India a predominância religiosa travou a
centralização do poder e enfraqueceu excessivamente o Estado.
Apenas na Inglaterra e na Dinamarca e depois nos EUA a
evolução foi favorável à emergência de Estados impessoais fortes, respeitadores
do Direito e assentes em princípios democráticos, assentes em sociedades civis robustas.
Só esta absurda conclusão, que só os EUA são verdadeiramente
democráticos, põe em causa todo um esforço hercúleo de análise histórica. Como
pode alguém acreditar seriamente que apenas um país (no máximo 3, um dos quais
pequeno) em todo o mundo, tem o passado que lhe permite ser democrático,
enquanto todos os outros têm estigmas na sua história que os torna total ou
parcialmente impróprios para a democracia.
Curiosa a ideia que a Igreja Católica teria destruído a
família durante a Idade Média ao advogar que as mulheres pudessem herdar o
património dos maridos (principio defendido pela Igreja com o fito de vir a
receber esse património por herança após a morte da mulher). Assim fazendo a
Igreja eliminou uma série de laços familiares e enfraqueceu a família alargada,
reduzindo-a ao núcleo base (casal e filhos). Noutros países a família mais
alargada (incluindo tios e primos) manteve-se, fortalecendo bases para um
familismo antagónico do individualismo.
Um conflito perspassa toda a obra, por um lado Fukuyama não
pode deixar de reconhecer que a estrutura social impele numa dada direcção,
isto é que o futuro está dependente do passado, do caminho seguido até ao
presente (path dependent), e por outro quer atribuir a maior latitude de acção aos
agentes como se fossem completamente livres para moldar o futuro (não estamos presos
da história). Não superando este conflito a obra de Fukuyama torna-se, por
vezes, contraditória ora creditando à história os meritos de um dado
desenvolvimento ora responsabilizando os agentes pelos acontecimentos.
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