Rashómon e outras histórias de Ryúnosuke Akutagawa
Akutagawa é, muito justamente,
considerado um dos maiores escritores japoneses. Morto prematuramente aos 35
anos deixou uma obra literária de grande qualidade e beleza.
Contos, organizadamente espraiados
pelos vários períodos da história nipónica, que encerram uma subtil lição
moral. Em “O Nariz” o herói de pois de conseguir reduzir a seu descomunal penca
a um tamanho normal, acaba por concluir que tem de regressar ao seu Eu original
se quer manter a sua felicidade, a sua integridade e o respeito dos outros.
Admirável também o conto da “Cabeça
cortada”, sobre o soldado chinês a quem cortaram a cabeça no campo de batalha e
que promete a si próprio, se sobreviver, dedicar a sua vida ao Bem.
No último conto, Akutagawa,
descreve com serena e lúcida objectividade a lenta degradação da sua própria
sanidade mental. A angústia, o medo, a insónia e o sofrimento que invadem, sem
razão aparente, o seu espírito e o haveriam de levar ao suicídio que antecipa
como única solução, são o tema central neste conto.
Apesar de o texto, Engrenagens em
Movimento, ser transparentemente autobiográfico e de ser escrito na primeira
pessoa, o narrador consegue manter sempre uma admirável distanciação que lhe
permite ver que a angústia e o medo que a realidade, sistematicamente interpretada
como mau presságio, lhe infunde são doentias e sem fundamento. Mas essa
compreensão intelectual, essa consciência, não é suficiente para eliminar o
sofrimento, antes mais uma fonte de dor.
Uma obra-prima da literatura
mundial. Pena que fossem precisos mais de 100 anos para que o leitor português a
possa ler. È caso para dizer “mais vale tarde que nunca”.
Nota final: as inúmeras notas que
esclarecem e enquadram aspectos históricos ou culturais japoneses e que são
úteis na leitura dos contos poderiam, com vantagem, ter sido colocadas em
rodapé.
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