O Sol Nasce Sempre por Ernest Hemingway
As festas de San
Fermín em Pamplona prolongam-se por uma semana, no ambiente vivo, enérgico
e fervilhante das multidões humanas reunidas para uma grande celebração. Um
ambiente marcado pela excitação perigosa das largadas de touros, em que se arrisca
a vida por um pouco de adrenalina, pela exaltação religiosa nas igrejas
católicas apinhadas de gente, pela alegria e coragem induzidas pelo vinho,
pelas touradas em que o confronto do homem com a besta, com a morte ganha uma
dimensão espiritual cristalizada na afición tauromáquica.
A estrutura temporal, ordeiramente linear, triplica de O Sol
Nasce Sempre conta-nos a história de um grupo de amigos antes, durante e depois
das festas. Geograficamente a história reparte-se entre a Espanha e a França, a
última vista como terra da sofisticação e da cultura, a primeira como espaço de
autenticidade e proximidade com a Natureza.
Um estranho grupo de homens gravita em torno de uma
aristocrata britânica ninfomaníaca. Temos o seu futuro marido, já cornudo
consciente e sofredor procurando manter alguma dignidade impossível, temos
Cohen o amante recentemente conquistado e repudiado mas que acalenta ainda a
esperança de voltar a cair nas boas graças, temos o herói impotente mas
dolorosamente apaixonado, temos Romero o jovem toureiro brilhante e audacioso
mas conquistado, usado, surrado e abandonado e temos Bill o espetador atento e inteligente.
Neste emaranhado de relações doentias – que vira
completamente do avesso o estereótipo que os homens procuram o sexo e as
mulheres o amor – ninguém se salva, exceto Bill que nunca se envolvendo com a
mulher fatal, nos dá afinal a grande lição de que é possível viver de forma
mais sã sem abdicar dos prazeres da vida.
No seu estilo simples, despojado, coloquial mas não deixando
de sondar as profundezas da alma humana Hemingway deixa-nos aqui um dos seus
melhores trabalhos.
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