Os Filhos da Meia-Noite de Salman Rushdie
Este livro é um tesouro.
Cada ser humano é fruto de uma confluência fantástica de
acontecimentos acasos, imprevistos e de múltiplas, contraditórias mas
inescapáveis influências familiares, culturais, politicas. Cada um de nós
carrega à nascença uma pesada e longa herança que nos marca e de que não nos
podemos libertar. Face aos acontecimentos externos respondemos com o que
apreendemos dos que nos antecederam e nos rodeiam. Presa no acaso e na história a
margem de autodeterminação do individuo é mínima se não mesmo inexistente.
Somos levados na corrente da vida como simples troncos num rio revolto e
inconsciente. Mas podemos apesar de tudo encontrar a serenidade e a felicidade.
A Índia com as suas cores exóticas e cheiros singulares, e
Saleem tem um nariz especial e um olfacto apurado, a Índia com as suas múltiplas
línguas, com as suas muitas religiões e fervilhando no caldo das ideologias políticas, a Índia com a sua
história milenar, com a sua luta pela independência, com a sua partição em três
estados, com a sua violência, a sua pobreza, a sua opulência, a Índia com as
suas virtude e defeitos é um mosaico perfeito, o palco ideal para ilustrar como
tudo nos toca, nos molda, nos constrói.
O livro filia-se no realismo mágico e nos estudos pós-coloniais
mas fá-lo de forma arrojada e irreverente criando novas palavras em inglês, misturando no texto muitas expressões de outras línguas e envolvendo o leitor e
tornando-o participante na trama fabulosa da vida de Saleem.
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