Tommaso dei Cavaliere de Julian
Stryjkowski
Miguel Ângelo ou Michelangelo foi, a par com Leonardo
da Vinci, o maior artista da Renascença italiana destacando-se em vários
domínios incluindo a pintura, a escultura, a arquitetura e até a poesia.
Julian Stryjkowski romanceia nesta bela
novela a relação entre Miguel Ângelo e Tommaso del Cavaliere, um nobre muito
belo, e o seu terrível impacto na produção artística do Mestre nos seus últimos
anos.
Miguel Ângelo dedicou mais de 30 poesias, a
maioria sonetos, a Tommaso a quem ofereceu vários desenhos com cenas
alegóricas.
A novela reflete de forma profunda e subtil
sobre a terrível tensão entre o desejo do amor carnal proibido, porque homossexual,
e o puro amor platónico presente na vida e obra de Miguel Ângelo.
Essa tensão dilacerante surge bem patente na
questão da nudez na arte. Miguel Ângelo que diz “Toda a vida acreditei que a
nudez é beleza” mas de igualmente afirma “Toda a arte é pecado”. Tal discussão,
muito característica da época, ilustra-se com o fresco encomendado pelo Papa
Clemente IV para a capela Sistina “O Juízo Final” em que Miguel Ângelo pintou
os corpos nus mas 20 anos mais tarde o Concílio de Trento ordenou que fossem
cobertos. A adulteração ficou a cargo de Daniele da Volterra.
Para pintar o corpo humano Miguel Ângelo
estudou anatomia e “O prior Epipodu
Epimario permitiu ao artista dissecar os cadáveres do necrotério do hospital da
igreja do Espírito Santo”.
A relação com a riqueza, “comia pouco,
vestia-se como um pobre e habitava uma casa miserável”, com a fama “ – A tentação
da fama … / - Despedi-me dela”, com a solidão, “Indisposto com os homens e o
mundo, procurava a solidão, temendo-a ao mesmo tempo”, a sua rivalidade com
Leonardo da Vinci a quem venceu num concurso de pintura, “Ofendido, Leonardo
abandonou pouco depois Florença e voltou a Milão” são outros temas que perpassam
nesta excelente obra do polaco Julian Stryjkowski.
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