O amor de uma boa mulher
Um conjunto de oito contos de Alice Munro a
escritora canadiana que recebeu o Prémio Nobel em 2013.
Bem localizados no tempo, anos
cinquenta-sessenta do século XX, i.e. nas duas décadas seguintes ao fim da II
Guerra, e no espaço, o Canadá rural de língua inglesa, estes contos centram-se
em complexas personagens femininas que enfrentam problemas morais nas suas
relações sentimentais e familiares cuja resolução altera definitivamente o rumo
das suas vidas.
No primeiro uma enfermeira recebe uma
desconcertante confissão de um assassinato, no segundo um casal hippie
desagrega-se quando o marido desaparece durante uma viagem à Indonésia, no
terceiro relatam-se as relações de uma inquilina com a sua senhoria, no quarto uma
atriz e a sua filha debatem-se nas suas diferenças e esperanças, no quinto as
crianças ficam com o pai quando a mãe parte com o seu amante, no sexto um homem
vive com duas mulheres numa quinta isolada até que uma tragédia se abate sobre
uma delas, no sétimo o aborto surge como tema, no oitavo uma criança acaba por
reconquistar o amor da sua progenitora.
Muitos temas deslizam nestes contos, a
relação com Deus, pergunta uma criança inocente: “O que quer dizer ”Deus
abençoe?”; o regime democrático canadiano – uma mulher cujo marido fizera
uma viagem à China perde o emprego porque “Alguém
manifestou a preocupação de que ela pudesse promover, no emprego, a leitura de
autores comunistas, influenciando assim as crianças que frequentavam a
biblioteca. Ninguém afirmou que ela o fazia – apenas que havia esse risco”.
A condição feminina porém abarca a maioria
das preocupações da autora, nomeadamente a do casamento e da relação
homem-mulher - “Ela sentia que a vida,
uma vez terminados os estudos consistia ainda numa série de exames a
ultrapassar. O primeiro era arranjar um marido. Se não se tivesse conseguido
isso por volta dos vinte e cinco, podia considerar-se, para todos os efeitos,
que esse exame falhara”.
Abordando temas da vida quotidiana, dilemas
morais e comportamentais familiares, através de uma escrita estranhamente
descritiva, cheia de ambiguidades que se vão esclarecendo, Munro capta o leitor
obrigando-o a uma atenção redobrada ao texto.
Um Prémio Nobel bem atribuído.
Foi o primeiro livro que li de Munro, há muitos anos atrás, era ela uma desconhecida em Portugal, mas claro respeitadíssima no meu país natal: o Canada
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