O Relativismo de Raymond Boudon
O relativismo, que na segunda metade do
século XX ganhou assinalável peso no pensamento liberal ocidental, tem vindo a
ser atacado por diversas correntes alternativas de pensamento nomeadamente o
marxismo, mas também por outras correntes e escolas filosóficas. Raymond Boudon
fazendo tábua rasa de toda essa rica discussão, que olimpicamente ignora,
avança com uma tese diferente.
Um livro estranho em que o autor, um reputado
sociólogo e pensador francês, ataca o mesmo princípio, o do relativismo, que defende.
Para isso cria as figuras do bom relativismo e do mau relativismo, sendo o mau
uma versão extremada do bom.
Afirma liminarmente “O bom relativismo chamou a atenção para o facto de as representações,
as normas e os valores variarem segundo os meios sociais, as culturas e as
épocas. O mau concluiu daí que as
representações, as normas e os valores são desprovidos de fundamento: que são
construções humanas inspiradas pelo meio, o espírito do tempo, as paixões, os
interesses ou os instintos”.
Partindo desta perspetiva Boudon enreda-se
num discurso muitas vezes incoerente, fazendo inúmeras referências às ciências
cognitivas e a outras áreas de saber que aparentemente não domina, sem que
consiga distinguir claramente as duas formas de relativismo que identifica e
sem explicar porque é que um é bom e outro mau nas suas consequências sociais,
morais ou intelectuais.
Reclama de forma confusa e superficial uma
filiação da sua tese nos conceitos de Max Weber de racionalidade difusa,
racionalidade instrumental e racionalidade axiológica, sendo que, contudo, lhes
dá contornos que se não encontram em Weber.
Na essência o relativismo defende que as
ideias e valores não se podem hierarquizar e apenas podem ser compreendidos no contexto
social em que emergiram e em que são aceites. Naturalmente existem versões
diferentes de relativismo, mas dificilmente se aceitará uma divisão entre bom e
mau como uma distinção científica e rigorosa.
Em suma, um livro confuso, mal argumentado,
ao pior estilo do intelectualismo francês. A muito reduzida bibliografia mostra
pouco trabalho de investigação para um trabalho desta ambição filosófica.
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