quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O Camarada


O Camarada de Cesare Pavese

Um dos grandes escritores italiano da primeira metade do século XX, Cesare Pavese (1908-1950) viveu os tempos atribulados da subida ao poder de Benito Mossolini em 1922, da ditadura fascista, da II Grande Guerra e da resistência.

Radicam nessa intensa vivência pessoal, que o levou à prisão, muitos dos temas que preenchem a obra literária de Pavese.

Em O Camarada, que se passa na segunda metade dos anos 30 do século XIX, em plena Guerra Civil Espanhola e ainda antes de começar a Guerra Mundial, encontramos temas com a repressão policial sobre os oposicionistas, o medo instalado na sociedade italiana, a pobreza de largas camadas da população, as diferenças regionais entre Turim, Génova e Roma, as relações entre homens e mulheres, o lento acordar da consciência política e da resistência mais esclarecida.

Acompanhamos o despertar de um jovem guitarrista de alcunha Pablo e a sua aventura migratória desde a sua tristonha Turim natal até à exuberante e festiva capital.

A habilidade de desenhar ambientes simultaneamente psíquicos, naturais e circunstanciais (“Foi assim que começamos a falar do seu passado e que me contou muitas coisas, cada vez mais tristes. Era para irmos ao cinema, mas acabamos por não ir. Compramos castanhas assadas e passeámos ao longo do Pó. Anoitecia, os candeeiros já estavam acesos e desejaria que aquele momento nunca mais passasse…”), as imagens fortes e claras (“Tinha um gato dentro do sangue, que me dilacerava com as garras”), tornam a escrita de Pavese bela e atrativa.

A reflexão social eivada de fino humor esta sempre presente como neste diálogo - “Estiveste no hospital – perguntei. – Tomara eu! Mas não aceitam gente que coma…”.

A questão política é analisada pelo prisma do sacrifício que os militantes clandestinos fazem em prol dos seus semelhantes (“Para que todos tenham uma vida melhor, começam vocês por estar pior”) e do marxismo (“Não é verdade que, em síntese, o marxismo consiste em ver as coisas tal como são e providenciar para que sejam como devem ser?”).

Apesar da mensagem intrinsecamente progressista O Camarada contem uma frase desnecessária para a narrativa mas muito infeliz que resvala para um racismo inaceitável sobre uma dançarina negra de um clube noturno.

Cesare Pavese foi membro do Partido Comunista Italiano até à sua morte e trabalhou na redação do jornal Unitá. Suicidou-se em Turim aos 41 anos na sequência de uma depressão ocasionada por um desgosto amoroso. Pouco antes recebera o prestigiado prémio literário Premio Stanza pelo seu livro “A bela Estação” publicada em 1949.

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