O Insustentável Peso da Solidão de Katherine
Masnfield
Sob este título algo desajustado inclui a
editora Coisas de Ler dois contos da escritora neozelandesa Katherine Mansfield
(1888-1923) que abordam o tema da felicidade humana e da sua fragilidade.
O segundo conto, de qualidade excecional,
intitulado Extase (Bliss em inglês), apresenta-nos uma jovem casada que vive um
dia glorioso de grande felicidade pessoal que assenta parcialmente num equívoco.
Com um estilo impressionista, capaz de criar
vividos quadro coloridos de grande detalhe e ambiental e preciso recorte psicológico,
Mansfield consegue transmitir-nos as sensações mais íntimas sobre objetos e
situações aparentemente insignificantes mas que são, muitas vezes, as que calam
mais fundo na alma e no intelecto humano.
Não resisto a transcrever esta passagem “Que podemos fazer quando temos trinta anos
e, ao virarmos uma esquina da rua onde moramos, nos sentimos invadidos, subitamente,
por um sentimento de felicidade – felicidade absoluta! – como se de repente
tivéssemos engolido um pedaço de brilho do sol, daquele fim de tarde e este nos
queimasse o peito, emitindo pequenas partículas brilhantes em todas as direções,
dos dedos dos pés até aos dedos das mãos? Oh não haverá uma forma de o podermos
exteriorizar sem estarmos bêbedos ou doidos?”. Eis a felicidade no seu
estado puro, emergindo repentinamente sem causa aparente, inundando o ser com a
sua energia impelindo-o a rir, a dançar, a partilhar a sua alegria. A simples
felicidade de estar vivo, de experimentar os cinco sentidos, de aceitar a
existência e de comungar com a natureza.
No primeiro conto, Preludio, uma família numerosa
muda de casa deixando o centro da cidade para se instalar nos arredores bucólicos
e rurais. O diferente impacto da nova casa (“Era comprida e de construção rasteira, com uma varanda de pilares e um
alpendre que dava volta à casa. A sua silhueta branca estendia-se no jardim
verde como se de um monstro adormecido se tratasse.”) sobre cada um dos
elementos da família, das crianças aos adultos, aos mais idosos, revela-nos a
sua personalidade, os seus sonhos e aspirações.
Ketherine Mansfield morreu jovem num tempo em
que a tuberculose não tinha cura. Deixa uma obra literária curta mas das mais
significativas da Literatura inglesa da primeira metade do século XX.
Sem comentários:
Enviar um comentário