Racism de Ali Rattansi
Concebido com uma muito curta introdução ao
fenómeno do Racismo, este ensaio escrito numa linguagem simples e acessível leva-nos
para uma reflexão multifacetada, intelectualmente séria e muito polémica.
Algumas ideias deste Professor de Sociologia
da Universidade de Londres são mesmo muito controversas, nomeadamente a da
recusa do conceito de racismo institucional, inicialmente avançado por Stokely
Carmichael (Kwame Ture), líder histórico dos Black Panthers e depois
reformulada no Relatório sobre a morte do jovem inglês Negro Stephen Lawrence
às mãos da Policia britânica em 1993. Nesse relatório concluía-se que a Polícia
britânica era institucionalmente racista. No entanto o conceito serviu por um
lado para introduzir um conjunto de reformas na estrutura, nos procedimentos e
na formação dos agentes por forma a eliminar o racismo da instituição, mas por
outro para desculpar os crimes individuais dos agentes com base na ideia que a
culpa era do racismo institucional na corporação.
Outra ideia debatível é a de que o racismo
não é uma questão de sim ou não, mas antes um continuo. Isto é, que na maioria
das vezes não se pode dizer que uma atitude, uma pessoa, uma política, uma
instituição é ou não racista, mas apenas se é racista em maior ou menor grau.
Rattansi não nega a existência de extremos, mas coloca-os como exceções. Este
gradualismo pode ser, aqui sim, uma via perigosa para uma desculpabilização. Veja-se
o exemplo português sempre a desculpar-se que os outros, ingleses e franceses,
foram ou são piores no seu racismo.
No geral o livro analisa sem dogmatismos e
com rigor o racismo e a sua interação com outros fenómenos como o género, a
classe social, a cultura, o nacionalismo.
A ideia de vários, contraposta à de um único,
racismos é também debatida, bem como as políticas do chamado novo racismo que
se esconde da negação e de uma atitude falsamente isenta de pretensa
invisibilidade da cor (colour-blind).
Um livro que nos faz pensar e que por essa
via nos abre novas perspetivas, temas e abordagens de um fenómeno que está a
ressurgir com força no centro da política portuguesa e europeia. Pena não estar
ainda traduzido em português.
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