História da Menina Perdida de Elena
Ferrante
Quarto e último volume da obra iniciada com a
Amiga Genial que nos conta a longa amizade entre duas crianças nascidas num
bairro popular de Nápoles, ambas dotadas de grande inteligência. Uma estuda e
torna-se escritora, outra não pode estudar e envereda por outros caminhos.
O tempo corre veloz e para trás ficou a infância,
nascem os filhos, os primeiros casamentos desfeitos, a vida muda ao sabor da
História de Itália que primeiro reprime violentamente o movimento
revolucionário e depois assiste à auto-dissolução da esquerda tragada pela
corrupção e pela ambição- “Anárquico,
marxista, gramsciano, comunista, leninista, trotskista, maoista, operaísta
estavam rapidamente a tonar-se rótulos retrógrados ou, pior, um estigma de
brutalidade. A exploração do homem pelo homem e a lógica do lucro máximo, que
antes eram considerados uma abominação, tinham voltado a ser, por toda a parte,
as bases da liberdade e da democracia”. Um processo semelhante aconteceu
por todo o ocidente incluindo Portugal. O centro dessa mudança foram os meios
de comunicação social doravante privatizados mas fortemente controlados pelos
Estados.
Os trinta cinzentos, os anos 80, 90 e 00 do
novo século escoam-se, mas a vida das duas amigas vai ficar indelevelmente
marcada por um acontecimento traumático. Este ultimo livro cobre um período temporal
mais largo, levando-nos pela vida adulta e o início da velhice das duas mulheres.
O grupo da escola primária, muito dividido
pela vida, começa a desaparecer vitimados pela violência, a doença e a droga. É
tempo de questionar a vida que se tem e teve. A resposta pode ser dolorosa mas
como pergunta Lila “onde está escrito que
as vidas devem ter um sentido?”.
Uma escrita mais rebuscada, mais refletida, mais
introspetiva e psicológica do que os tomos anteriores, faz-nos olhar mais para
os sentimentos do que para os simples acontecimentos que são, agora, remetidos
para um segundo plano fosco e vistos com grande distanciamento, embora com
rigor histórico.
Nápoles reganha todo o palco e pode agora ser
mais minuciosamente analisada. Revela-se uma cidade cebola com as suas múltiplas
camadas sobrepostas ao nível geográfico, social e humano. Uma cidade violenta,
dura, crua, capaz de permitir a tragédia do desaparecimento de uma criança de
quatro anos.
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