Torto Arado de Itamar Vieira Júnior
Uma história que nos transporta para o lugar do Outro, que nos imerge na vida doce e dura dos Negros das roças brasileiras, onde o jarê é a religião, onde Zeca Chapéu Grande o curador, onde os latifundiários absentistas exploram brutalmente os trabalhadores Negros a troca do simples direito de morar nas terras sem nunca lhes pagar. Onde os encantados montam os corpos e os fazem dançar, onde a terra é fértil, a água abundante, o peixe farto, mas também há períodos de calamitosa seca. Onde a memória recua até África.
A crónica de uma família que perante todas as dificuldades perversa a sua dignidade e luta pelos direitos de toda a comunidade.
O realismo, o neorrealismo, a literatura empenhada de teor social não está, como muitos o querem fazer crer, morta e enterrada. Ela evoluiu e aqui ressurge em vestes poéticas, femininas, forte e vigoroso mostrando-nos as realidades escondidas, expondo as injustiças, de forma tremendamente humana e tocante.
Um livro que mostra como a trilogia, classe, raça e género são pilares de uma ordem que tem de questionada.
Este romance enternecedor tem, se houver justiça no mundo, de valer a Itamar Vieira Júnior o Prémio Nobel da Literatura. Sem dúvida que o merece.
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