Utz por Bruce Chatwin
As singelas figuras coloridas, de cores desmaiadas, de
porcelana da fábrica de Meissen criada no início do século XVIII na sequência
do apoio do Rei Augusto II da Polónia, um apaixonado pela porcelana chinesa, a
um conjunto de alquimistas que acabaram por descobrir o segredo do fabrico
deste material, são hoje peças de museu e de coleção. Os seus preços são
exorbitantes. A fábrica, essa, depois de três séculos, contínua em laboração,
um bom exemplo de empresa pública, que sempre foi e ainda é, de sucesso.
Kaspar Utz um abastado barão alemão da região dos sudetas
acaba, depois do turbilhão da II Grande Guerra, a viver em Praga então capital
da Checoslováquia um país comunista. Possui uma grande coleção de porcelanas de
Meissen que guarda em casa e uma fortuna depositada num banco suíço.
Com arte e engenho vai usufruir das duas. Mantêm a posse da
sua coleção, prometendo doá-la ao Museu local depois da sua morte. E consegue
obter anualmente uma autorização para viajar para o estrangeiro para umas
férias numas ternas de luxo francesas. Uma vez no estrangeiro, e tendo acesso
ao seu dinheiro, chega a comprar mais peças para a sua coleção e a trazê-las de
“contrabando” para a sua casa em Praga.
Utz tem também uma agitada vida amorosa mas acaba por se
casar com a dedicada criada Marta que o acompanha à longa data. É com a
cumplicidade desta que quando a morte se aproxima consegue fazer desaparecer a
sua coleção. Destruída? Enterrada com ele? Escondida? Mistério.
Um livro extraordinário nas descrições dos ambientes, começando
pelo do funeral desolado e triste de Utz e passando pela estranheza do roupão
na casa de banho aquando da vista do narrador à casa do barão.
Utz um homem que inteligentemente constrói a sua felicidade
no mundo em que lhe coube viver.
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