Vinte anos e um dia de Jorge Semprún
Um fastidioso e repetitivo romance erótico-político
de cariz autobiográfico que se desenrola na Espanha dos anos cinquenta, quando
sob a sangrenta ditadura franquista alguns estudantes e intelectuais procuram
resistir clandestinamente.
Um quadro da pintora barroca italiana Artemisia
Gentileschi com a decapitação do general assírio Holofernes pela traiçoeira
judia Judite tema que foi glosado por tantos pintores como Lucas Cranach,
Caravaggio, Goya, entre outros e um artigo de Samprún Gurrea na revista Cruz y
Raya, a publicação cultural dos católicos progressistas espanhóis, são
mencionados obsessivamente ao longo de toda a narrativa.
O personagem central do livro, aquele em roda
do qual tudo gira, é Francisco Sanchez o pseudónimo usado na época pelo autor,
Jorge Semprúm, então membro do Comité Central do PCE, partido de que viria a
ser expulso em meados nos anos sessenta.
O seu pai Semprún Gurrea, jurista e político
da República, é mencionado amiúde e outros personagens ostentam nomes de
familiares seus como os Maura, um seu avô Maura foi repetidamente
primeiro-ministro no tempo da Monarquia, os Pomba e outros a quem coloca em
situações de grande ambiguidade moral, é sugerido o incesto e a traição.
Vindo de uma família da alta burguesia
citadina Jorge Semprún foi educado em França, pertenceu à resistência francesa
na II Guerra, foi preso e levado para o campo de concentração. Após a guerra
aproxima-se do PCE, de que foi militante durante cerca de uma década. Expulso
volta a Espanha, tendo mais tarde desempenhado funções de Ministro da Cultura
num governo do PSOE. Morreu em 2011.
Este romance escrito em 2003, quando Semprún
já contava 80 anos, reflete uma visão a um tempo nostálgica do seu passado, a
que atribui um estatuto misterioso e heróico, e reprovadora do PCE e da sua
política e métodos, o que contribui para um certo desacerto no tom do livro ao pretender
glorificar o agente de algo que se critica.
Semprún ganhou algum estatuto como escritor mais
graças a sua passagem pelo Ministério da Cultura do que pela valia literária da
generalidade da sua obra.
Sem comentários:
Enviar um comentário