Para a Questão Judaica Karl Marx
Um conjunto de ensaios de Karl Marx que
partindo da análise e da crítica de textos de Bruno Bauer sobre a questão
judaica na Prússia alarga a análise à questão da emancipação do ser humano nas
amarras de religião e oferece uma visão materialista que demonstra que o mundo
das ideias depende das condições concretas de vida e da organização social e
não o contrário.
Dois pequenos textos mas muito densos e de
grande profundidade filosófica. Marx analisa de forma crítica as teses de Bruno
Bauer sobre a integração dos judeus na Prússia, Estado que oficialmente se
definia como cristão.
Bauer defendia que em termos de religião o
cristianismo era mais avançado que o judaísmo e que por conseguinte um passo
importante para a emancipação dos judeus passaria pela prévia conversão ao
cristianismo e só depois dessa posição conseguiriam fazer uma crítica
consequente da religião e lutar por um estado laico.
Marx responde que o Estado laico não exige
nada disso e que é possível continuar judeu dentro de tal Estado, como se
comprovava pelos Estados Unidos, uma vez que a emancipação política, isto é a
obtenção de direitos políticos para todos independentemente da sua religião,
não exige a libertação do ser humano na ilusão religiosa. “A emancipação do Estado relativamente à religião, não é a emancipação
do homem real relativamente à religião”.
O Estado pode ser laico, isto é não
subordinado a uma religião específica, mas os homens concretos podem continuar
a professar uma qualquer fé. No Estado laico “O homem não foi, portanto, libertado da religião, recebeu a liberdade
de religião”.
Por outro lado Marx mostra que o judaísmo mais
do que uma religião era na Prússia uma prática concreta, assente numa
especialização profissional em torno do comércio assente no lucro, isto é uma
prática de índole financeira e comercial capitalista. Nesse sentido seriam os
cristãos ao abandonar o feudalismo que se estavam a converter às práticas
judaicas. Nessa medida as diferenças entre cristãos e judeus esbatem-se “Os judeus emancipam-se na medida em que os
cristãos se tornam judeus”.
O lucro que os judeus procuravam
incessantemente nas suas atividades e que de alguma forma se constituía no seu
Deus “mundanizou-se, tornou-se deus
mundial”.
Por último Marx defende que o homem só se
libertará completamente quando a sociedade se organizar de forma diferente, uma
nova forma em que os seres humanos não mais obedeçam cegamente ao Deus do
lucro, mas sigam outros valores mais humanos.
Se o texto de Marx é denso e difícil, podendo
em algumas passagens ser mal compreendido e mal interpretado, o que dizer do
desadequado prefácio de José Barata Moura que ao invés de ajudar a situar e a perceber
a Questão Judaica lhe acrescenta uma complexidade adicional totalmente
desnecessária e uma profusão de notas, muitas em alemão, que não facilitam a
apreensão desta importante obra do grande filosofo alemão.
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