Os Senhores do Mundo de Noam Chomsky
Uma colectânea de 8 ensaios publicados ao
longo de várias décadas de intervenção cívica do grande intelectual norte-americano.
Os dois primeiros abordam justamente o poder dos intelectuais
e do conhecimento que geram. Conclui que o papel positivo que os intelectuais progressistas
devem ter é o de “aferir, avaliar, de tentar persuadir, organizar, mas não o de
tentar tomar o poder e a liderança”. Chomsky escreveu este texto em 1970. Tem
seguido coerente e corajosamente esta prescrição.
Depois analisa o papel da indústria de guerra
na economia americana salientando que o investimento público de tão larga escala,
os EUA gastam em defesa mais do que todos os outros países somados, permite
subsidiar as empresas ineficientes que de outro modo já teriam fechado e
financiar a investigação do setor privado (universitário e económico).
O terceiro ensaio, Uma exceção às Regras, mostra
como os EUA aplicam dois pesos e duas medidas quando se trata do terrorismo, por
um lado atacando quem o pratica e por outro apoiando os aliados, como Israel que
matam indiscriminadamente civis, mas igualmente recorrendo a ele, muitas vezes
em escala inaudita. São dados muitos exemplos de terrorismo levado a cabo pelos
EUA, desde o massacre de My Lai ao assassinato de líderes religiosos estrangeiros.
Divina Licença para matar é um texto sobre as
ideias de Reinhold Niebuhr um celebre pregador cristão que justificava as ações
criminosas dos EUA com base nas Escrituras. Defensor de uma cruzada santa para
acabar com o bolchevismo nos Estados Unidos apoiou o macartismo. Chomsky denuncia o facto de os EUA
quererem impor ao mundo Tribunais Internacionais ao mesmo tempo que se recusam
a sua jurisdição. Dá o exemplo da recusa dos Estados Unidos em se
submeter à decisão do Tribunal Internacional de Justiça que ordenou que
parassem com o uso da força contra a Nicarágua continuando a fornecer armas aos
terroristas que massacraram milhares de pessoas.
Mais á frente retoma o tema da Nicarágua. Um
excerto: “A Nicarágua foi reduzida ao segundo país mais pobre do hemisfério,
com 60% das crianças abaixo dos dois anos de idade a sofrerem de anemia devido
à subnutrição e provavelmente danos cerebrais irreversíveis, após o país ter
sofrido baixas durante a guerra terrorista que, em termos per capita, seria
comparável a 2,5 milhões de mortos nos EUA…” número superior ao sofrido pelos
EUA em todas as guerras do século XX.
Em Consentimento sem Consentimento: Reflexões
sobre a Teoria e Prática da Democracia, discorre sobre o facto de as classes
dominantes americanas reinarem sobre o povo clamando que o fazem com o seu consentimento
de uma forma indireta, i.e., sem o consentimento explicito, muitas vezes até
contra a vontade expressa, mas em defesa do interesse mais profundo. Como um
pai que impõe a sua vontade aos filhos no interesse destes. Tal ideia foi
desenvolvida pelo teórico americano Giddings e é largamente aplicada nas
democracias ocidentais.
Este método antidemocrático é mascarado por
retórica que parece satisfazer os eleitores mas atua contra a sua vontade. Por
exemplo “garantir a sustentabilidade da segurança social” objetivo que todos
apoiam significa na prática diminuir prestações para aliviar as empresas de
contribuições, ou noutra versão “preservar e proteger o Medicare” significando
diminuir comparticipações.
Os
restantes ensaios abordam questões importantes como o aquecimento global e a
estratégia do lobby petrolífero que pretende continuar a aquecer o planeta,
Um livro muito interessante sobre como as
elites dos Estados Unidos dominam o seu povo e o tentam impor a sua vontade ao
resto do mundo. Pena que a tradução seja algumas vezes deficiente, o que não
impede contudo a leitura proveitosa.
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