quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O Profeta



O Profeta de Khalil Gibran

Um homem, no dia em que se prepara para regressar à sua terra, fala ao povo da terra onde se acolheu durante mais de uma década. No momento da despedida muitos lhe põem questões a que responde com uma sabedoria e uma profundidade surpreendentes.

A uma mãe de uma criança de colo que o interroga sobre os filhos responde de forma inesperada: “Os vossos filhos não são vossos filhos”. Os filhos não pertencem aos pais, são seres independentes. “Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas. Pois as suas almas vivem na casa do amanhã, que vós não podereis visitar, nem em sonhos”. Os filhos são o futuro, os pais o presente. Que são então os pais? “Vós sois os arcos de onde os vossos filhos, quais flechas vivas, serão lançados”.

Ao rico que lhe pergunta pela Dádiva ensina que “Dais muito pouco quando estais a dar o que vos pertence. Só quando vos dais a vós próprios é que estais verdadeiramente a dar”. E continua dizendo que tudo é transitório e que não faz sentido o apego às coisas materiais “E que podereis conservar? Tudo o que possuís será um dia dado. Por isso dai agora, agora que a época da dádiva pode ser vossa e não dos vossos herdeiros”. E aos que dizem que só dão a quem merece contrapõe que todos são merecedores “Aquele que é merecedor das suas noites e dos seus dias é com certeza merecedor de tudo” e que pelo contrário em vez de julgarem os outros devem “Certificai-vos primeiro de que sois dignos de dar e de ser instrumento da dádiva”.

Ao operário disse uma verdade desprezada “Quando trabalhais sois uma flauta através da qual o sussurro das horas se transforma em música”. À sacerdotisa explicou a relação entre a razão e a paixão, dois gémeos entrelaçados e que “deveis descansar na razão e agir na paixão”.

Ao jovem ensinou que ao nosso melhor amigo “Procurai-o sempre com horas para viver” e não para passar o tempo ou ocupar o nosso vazio.

Ao astrónomo dissertou sobre o tempo. “Gostaríeis de medir o tempo, o ilimitado, o incomensurável” mas tal não é possível. Recordou que o ser humano possui o amor que como o tempo é insondável e indivisível e que a reconciliação com tempo passa por “que o vosso presente abrace o passado com nostalgia e o futuro com ansia e carinho”.

A um ancião explicou a diferença entre o bem e mal, à sacerdotisa ofereceu a sua meditação sobre a prece, ao ermitão falou sobre o prazer, ao poeta da beleza, a uma mulher sobre a dor.

Num estilo poético e brumoso, cheio de belas e certeiras metáforas, o profeta deixa-nos a sua mensagem de esperança, de apaziguamento e de reconciliação com a nossa natureza profunda, e de irmandade com a natureza, que nos interroga e interpela a procurar a essência para lá da espuma dos acontecimentos e da vida quotidiana.

Khalil Gibran, o pensador árabe cristão libanês, é um autor de culto em todo o mundo, tendo os seus livros sido lidos por milhões de pessoas. Este é sem dúvida um grande livro.

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