sábado, 30 de maio de 2009

Blackjack




Os quatro tomos da série de banda desenhada Blackjack (Blue Belle, Laura, L´as de coeur e Alfonso) de Steve Cuzor, publicados entre 1999 e 2006, reunidos num só volume.

As desventuras de quatro rapazes que crescem em Blue Belle um bairro do Brooklyn nas margens do East River em Nova Iorque durante a Grande recessão. A miséria e o crime são as constantes do dia a dia destas crianças. As ruas apinhadas, as linhas-férreas abandonadas, os becos imundos, as caves abandonadas, o banco de trás de carros, são os cenários onde se desenrola o drama.

Entre os personagens um padre que faz contrabando de álcool e acaba morto, um anão que confirma o ditado que “quem com ferro mata, com ferro morre”, um polícia que recebe dinheiro da máfia e o célebre gangster de Chicago Al Capone.

domingo, 24 de maio de 2009

O Desenho no Tapete


“ ... ela sentia em itálico e pensava em maiúsculas” (página 35)

O drama da obsessão que toma conta de uma vida, o desespero provocado por um enigma que não se consegue deslindar e que para todo o sempre se manterá irresolúvel. O desenho no tapete será sempre invisível para aqueles que mais o querem ver.

A felicidade de saber um segredo e não o revelar, de conhecer a chave do mistério e não a partilhar, a fidelidade a um amor e a uma procura. A alegria de ver o que aos outros está vedado.

Um belo livro. Estaria Henry James a dizer-nos que também ele desenhou algo oculto e maravilhoso no tapete da sua obra? Quem conhece então esse fantástico segredo?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O Tesouro



Um conto ingénuo e moralista de Selma Lagerlöf a primeira mulher a ganhar o Prémio Nobel da Literatura.

O tesouro guardado na arca do senhor Arne leva ao crime mas também permite apanhar os assassinos. O amor da jovem Elsalill que tem tanta força que perdoa ao assassino da sua família adoptiva quando pensa que ele se arrependeu e que se transforma em coragem ao ver que se trata apenas de uma falsa contrição do escocês. O mar que por vontade divina não degela até os bandidos estarem presos impedindo-os de levantar ferro e zarpar. A Suécia, as suas ilhas, e os caminhos do mar percorridos em carroças puxadas a cavalos.

Um pequeno livro que se lê num sopro.

domingo, 17 de maio de 2009

O matricídio e outras histórias


Será possível que um ser humano odioso, um criminoso, uma pessoa que teria passado melhor o seu curto tempo de vida na cadeia do que em liberdade, possa ser simultaneamente um escritor de algum mérito? Aparentemente é. A capacidade de escrita parece ser independente da fibra moral. Mas obviamente que o caracter do autor acaba sempre por emergir sua obra.

Géza Csáth, neurologista, aproveitava a sua condição de médico e de autoridade para satisfazer os seus apetites sexuais com as mulheres que encontrou no hospital psiquiátrico em que trabalhava, as criadas, as enfermeiras, as familiares dos doentes e mesmo as doentes eram as suas presas. Tudo apontou minuciosamente no seu Diário. Tornou-se depois viciado em morfina. Foi expulso do exercito por mau comportamento. Matou a própria mulher a tiro de revolver. A sua vida é um rol de sucessivos vícios, baixezas e violências sobre os mais fracos.

A sua obra porém é de qualidade. A sua obra deve ser recordada e lida. O autor deve ser conhecido, criticado e desprezado.

Mas mesmo na sua literatura os defeitos de Géza Csáth transparecem. Pista seduz a sua amada com dois bofetões e daí retira lições sobre a arte de conquistar o coração feminino. Dois irmãos matam a mãe, vão lavar os dentes e seguem para a escola como se nada fosse. Mesmo no seu melhor texto “O silêncio Negro” um irmão estrangula o outro.

Os seus contos foram publicados sob o título “Contos sem final feliz”. Géza Csáth também não teve um final feliz. Acabou por se suicidar. O mundo perdeu então um pulha e um escritor.


sábado, 16 de maio de 2009

Histórias Extraordinárias

"No sentindo que aqui lhe atribuo é, na realidade, um mobile sem
motivo, um motivo não motiviert."
(página 76 no conto O demónio da perversidade)



Edgar Allan Põe reflecte nestes contos sobre a natureza do Mal, a sua irresistível atracção sobre certas almas e a luta desesperada que se trava na mente humana que tenta em vão resistir à horrível tentação.

O Mal praticado sem motivação, sem explicação racional, sem ganho ou mesmo com enorme prejuízo, fascina o autor e inspira os melhores textos deste livro. Conclui que o Mal se impõe ao malfeitor como um “impulso radical, primitivo, elementar”. O que, obviamente, não diminui a responsabilidade do criminoso, nem desculpa as suas pavorosas acções. Aliás muitas das personagens de Põe vivem para sempre atormentadas pelos crimes que cometeram.

sábado, 9 de maio de 2009

Contos Vermelhos e outros escritos



Pequenos contos de Soeiro Pereira Gomes sobre a vida dura e penosa dos portugueses da sua (e nossa) época. Quadros realistas descritos com emoção e ternura. Figuras como Rosinda a mulher que a miséria e a fome empurram para a venda do filho mais velho ou o pastor que morre atropelado com o filho nos braços, surgem-nos bem vivos e em carne e osso, como se as conhecêssemos, como se fossem nossos conterrâneo menos afortunados.

Entre os 15 contos reunidos neste livro, três ou quatro tem como personagens militantes clandestinos de um partido oposto à ditadura de Salazar que, não sendo explicitamente denominado, se advinha ser o Partido Comunista Português de que Soeira Pererira Gomes era membro e dirigente. Nesses textos uma figura sobressai, o camarada Alexandre, personagem dotada de grande coragem e abnegação à causa dos mais pobres e vulneráveis. No último texto do livro o autor desvenda comovido o verdadeiro nome do camarada Alexandre que sendo um pessoa bem real acabara (Junho de 1945) de ser assassinado em Bucelas.

Excelente livro, oportunamente publicado no ano do centésimo aniversário do nascimento do autor que veio ao mundo a em Abril de 1909. A ordem escolhida pelos editores para apresentação dos contos no livro ganharia em ser outra.

domingo, 3 de maio de 2009

Um Homem muito procurado


Não foi teu irmão? Foi o teu pai
ou senão foi teu avô.
Disse o Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.
Onde a lei não existe, ao que parece,a razão do mais forte prevalece
La Fontaine


Os famosos Lipizzaner descendentes dos cavalos de Cartago, como os cisnes, nascem pretos mas ficam brancos quando crescem e se tornam adultos.

As heranças queimam, moldam a fogo o nosso destino. Todos os protagonistas têm heranças que os atormentam, Brue, ultimo descendente de uma família de banqueiros privados, digere mal a criatividade de seu pai o inventor das refinadas contas Lipizzaner. Issa Karpov rejeita a herança do pai e recolhe-se na memória e cultura da mãe que não chegou a conhecer. Annabel a advogada rebelde quer libertar-se de uma família de sucesso. Todos expiam os pecados que não cometeram, os erros das gerações que os precederam.

A lógica perversa dos serviços secretos disposta a tudo sacrificar e a brutalidade, estupidez e a supremacia da lógica americana das prisões secretas, das deportações ilegais, da tortura.