Contra Mar e Vento de Henrique Teixeira de Sousa
Sob este título reúne-se uma excelente coletânea
de dez contos, de cariz neorrealista, do escritor e médico cabo-verdiano
Henrique Teixeira de Sousa (1919-2006).
A ilha do Fogo, com a ilha Brava no
horizonte, as suas gentes, costumes, dificuldades e esperanças são aqui
retratadas com precisão fotográfica sem que se perca o olhar profundamente
humano e solidário.
Em “Barrilinho de Azeite” um velho professor aposentado
de uma localidade do interior desloca-se de mula à vila litoral para licitar um
barril de azeite apreendido pela alfândega e posto em leilão público. Uma
viagem que é uma ocasião para conhecermos o mundo rural “Toda a encosta que descia até o mar parecia ter sido escanhoada com uma
enxada”. Mas estre mestre, condecorado pelo Governador, guarda um desgosto
profundo que o protege do sofrimento advindo de outras perdas.
O “Protesto” mostra-nos outra faceta dos
habitantes do Fogo, a sua relação com o mar e conta-nos a história de um
naufrágio de uma palhabote cabo-verdiano que zarpa de Providence nos Estados
Unidos rumo ao arquipélago.
Os costumes religiosos com as suas missas e
procissões, as rixas entre grupos e famílias rivais, por causa de namoros
contrariados, que acabam com mortos e feridos recordam-nos vagamente Verona de
Romeu e Julieta. Neste conto, “Encontro”, o andor abandonado na estrada
enquanto os seus portadores correm de cajado levantado para se juntarem à
batalha campal na praça contígua é uma metáfora perfeita do ser humano
abandonando a virtude e juntando-se ao pecado.
“Dragão e eu” mostra-nos a fome, a miséria
que se abatia sobre as populações, perante a quase total indiferença das
autoridades coloniais portuguesas, em tempos de seca – que são frequentes. As
populações do interior desciam à vila em busca de auxílio – “Deambulavam pelas ruas num cortejo de
tristeza e desespero” – mas acabavam por morrer de fome como “Pinoti-Capador
morreu inchado”.
A fome que deforma de mata “Os meninos ganhavam rugas e pareciam uns
anões velhos. De noite recolhiam-se no casarão da Escola e no outro dia, ia-se
ver, eram vivos e mortos estendidos a esmo pelo chão”. Uma imagem terrível
e verdadeira que nos deve ficar gravada como um dos grandes crimes do Portugal
contemporâneo e que nos deve obrigar a desmentir quando alguém refere que o
nosso colonialismo foi suave. Não foi. Deixar morrer milhares de pessoas à fome
não é suave. Esta foi a realidade de Cabo-Verde durante os séculos de dominação
portuguesa.
Nos últimos anos da sua longa vida Henrique
Teixeira de Sousa viveu em Portugal, mais concretamente em Algés no nosso
concelho de Oeiras. Falta ainda uma homenagem condigna do nosso Concelho a este
grande escritor de língua portuguesa.
Termo de responsabilidade resumo
ResponderEliminarMuito profundo.
ResponderEliminarIst não ajudou muito eu só quero barrilinho de azeite
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