quarta-feira, 27 de julho de 2016

Valparaiso



Valparaíso de Don DeLillo


Um engano ao apanhar um avião desvia um homem de Valparaíso, Florida para Valparaíso no Chile. Este incidente insignificante vai coloca-lo à mercê da máquina mediática, sem pronta a explorar os acontecimentos mais irrelevantes e em torna-los temas centrais, que o acabará por destruir.

Uma peça inquietante sobre a busca da identidade, sobre o vazio da alma humana que se descobre para lá do que pensamos superficialmente ser e de como os média se transformaram numa gigantesco aparelho de prospectar o interior das pessoas acabando por descascar camada a camada a personalidade das pessoas e por revelar um enorme vácuo quando o último véu, atrás do qual nos escondemos, é levantado. Neste sentido este é um texto profundamente impregnado de filosofia budista.

A sociedade contemporânea com a sua esquizofrenia, com a sua busca incessante pelo novo, pelo diferente, pelo estranho, com o seu desprezo pelos sentimentos, pelas pessoas, sempre egocêntrica e exibicionista, é aqui exposta de forma crua, rude mas muito subtil e inteligente.

Don DeLillo é um dos maiores escritores vivos da actualidade. Há um prémio que tarda mas que já foi merecido pela obra publicada.

domingo, 24 de julho de 2016

Morte no Verão



Morte no Verão de Yukio Mishina

Uma coletânea de 10 contos do célebre escritor japonês da primeira metade do século XX que se suicidou por esventramento (Seppuku) quando, em 1970, tentou infrutiferamente um golpe de Estado para repor a divindade do Imperador.

Em Morte no Verão temos o drama da morte dos filhos e a tristeza e a bênção que emanam da capacidade de esquecer. Em Três Milhões de ienes, temos um casal muito organizado, conservador e até infantil na vida real que se revelam atores de cenas pornográficas. Em Garrafa Termo aprendemos sobre os estranhos terrores que podem ser muito reveladores.

O Sacerdote do Templo de Shiga e o seu Amor põe em contraste a vida eterna e a vida terrena. As sete pontes leva-nos para o mundo da superstição e da persistência. Dojoji é uma curta peça teatral sobre um roupeiro gigantesco e uma mulher traída. Onnagata remete-nos para a atmosfera que rodeia o teatro Kabuki e para os atores masculinos que interpretam personagens femininas. A pérola é uma curiosa e intrincada comédia que aborda a psicologia feminina. Cueiros conta-nos a história da fatal obsessão que se apodera de uma mulher cuja empregada tem um filho ilegítimo que ao nascer é embrulhado em papel de jornal pelo médico.

O último conto intitula-se Patriotismo e descreve a última noite de um soldado e da sua mulher antes de ambos cometerem suicídio. Um conto algo premonitório da própria morte do autor. O conto foi escrito em 1960 altura em que Mishima se começo a aproximar das ideias de de extrema-direita que o haviam de levar a tentar um golpe de Estado antidemocrático.

sábado, 2 de julho de 2016

Contra a Eutanásia



Contra a Eutanásia por Lucien Israel

Uma longa entrevista ao médico oncologista francês Lucien Israel versando múltiplos aspetos da medicina, na relação médico-doente e da relação da sociedade com a doença e com a morte.

Lucien Israel é um agnóstico, não é crente de nenhuma religião nem ateu, deixando claro que as suas opiniões, como no fundo todas, relevam “da reflexão e da sabedoria” apoiadas na ciência.

Israel defende que o médico não deve estar “nem ao serviço da ciência nem ao serviço da comunidade: o médico está ao serviço do seu paciente. É tudo. E o paciente tem todo direito de receber o tratamento adequado. Obviamente, a ciência é fundamental para a medicina, mas continua a ser uma prática separada”. Não estar ao serviço da ciência significa não sacrificar o doente à experiência científica, não o tornar numa mera cobaia, não estar ao serviço da comunidade significa nunca sacrificar o doente a imposições externas que imponham o fim do tratamento por razões económicas.

Este médico defende que é sempre importante prolongar a vida do paciente, principalmente hoje em que, mais do que nunca, a ciência avança rapidamente “É possível que alguém a quem hoje “se concedem” seis meses de vida, possa beneficiar, ao cabo de quatro ou cinco meses, de um tratamento que lhe dará quatro anos e que, depois, dentro de três anos, de outro tratamento que lhe dará mais dez. Enquanto há vida há esperança”.

Argumenta contra a eutanásia desmontando os argumentos dos defensores desta forma de assassinato afirmando que é sempre possível eliminar a dor nos doentes e manter a sua dignidade. Aliás a condição de doente ou de idoso não é indigna mas sim profundamente humana. Os sãos e os jovens é que classificam de indigna a situação dos outros.

Preocupante são as pressões económicas e pessoais da família, do pessoal médico e da sociedade sobre o doente para que peça a eutanásia. A situação em alguns países é tão forte que os reformados procuram proteção noutros países que não pratiquem a eutanásia e em que possam ter confiança nos médicos – “Não é por acaso que muitos anciãos holandeses se estabelecem em França: esperam que aqui não sejam mortos tão facilmente. Um paciente perde rapidamente a esperança; bastará dizer-lhe que já não há mais nada a fazer e pronto”.

Uma frase final “Bastará pensar naquele médico holandês, particularmente determinado a servir o próximo, que efetuava seis eutanásias por dia! Como poderei pensar que exerço a mesma profissão que ele?”. Tem razão, ele é médico o outro um …

Um livro indispensável para quem quer ter opinião sobre este tema.