domingo, 30 de novembro de 2014

A Volta ao dia em 80 mundos

A Volta ao dia em 80 mundos por Julio Cortázar

Um livro sobre Literatura nas suas múltiplas vertentes: a) as fontes de inspiração – outros poetas e escritores, música, especialmente o Jazz, outras artes b) a atitude do artista perante o mundo – o deslumbramento a que outros chamam idiotice e o humor c) os temas literários – a alma humana, o drama social, o assassinato e os assassinos d) a posição do escritor perante a política e a religião e) os condicionamentos à criatividade - o peso da história literária, certa filosofia estética f) os leitores – com os seus variados gostos e atitudes, g) os editores.

Um livro genial em que a autor fala de tudo e de nada com elegância, com profundidade, com sinceridade e com muito bom humor.

Um conjunto de textos aparentemente soltos e independentes, que podem ser lidos em qualquer ordem, mas que expõem o pensamento de Julio Cortázar sobre a Literatura e o processo literário.
 

A Missão

A Missão por Ferreira de Castro

Este livro contém duas pequenas novelas “A Missão” e “O Senhor dos Navegantes”. 

A primeira sobre um dilema moral que uma pequena comunidade sacerdotal enfrenta durante a II Grande Guerra em França. Na aldeia coexistem dois edifícios idênticos um alberga uma fábrica onde trabalham centenas de pessoas e no outro habitam os 13 padres. Pressentindo a possibilidade de os alemães bombardearem a localidade para destruir a fábrica os padres pretendem assinalar com letras bem grandes a sua residência para assim evitar a destruição e a morte. Mas ao fazê-lo denunciam o outro edifício como sendo a fábrica condenando os trabalhadores. Que fazer?

Uma frase marcante “Quando começamos a interessar-nos profundamente pelo destino dos homens sobre a terra e a preocupar-nos com as injustiças que eles sofrem aqui, é que se abalou em nós a certeza de que o sofrimento neste mundo é o preço da felicidade no outro”.

Na segunda novela “O Senhor dos Navegantes” encontramos um louco que se julga Cristo, ou será ao contrário Cristo julgado louco, que faz se lamenta e atormenta pelas falhas da sua criação.
 

 
 

sábado, 29 de novembro de 2014

Dias Felizes

Dias Felizes de Samuel Beckett



Uma peça assustadora, que nos deixa angustiados e nos faz reflectir no sentido, ou falta dele, da Vida.

Um enorme vazio. A terra, como diria Guerra Junqueiro, “seca, deserta e nua”, os dias iguais, as vidas ocas, sem sentido, numa sucessão de dias falsamente felizes em que há “Tão poucas coisas a dizer, tão poucas a fazer, e o medo…”, e depois o nada.

O drama da existência humana com a sua consciência, com a sua inteligência, mas sem qualquer pista que nos mostre um caminho, que nos dê uma finalidade. E, contudo, precisamos que “aconteça alguma coisa no mundo”.

Beckett cultiva uma dramaturgia despojada, um teatro do absurdo, em que vai ao âmago das perguntas primordiais do Ser Humano sobre a sua identidade e sobre o seu propósito. 

Mas a sua solução a estas questões é, no fundo, uma resposta derrotista, obcecada pelo aparente absurdo da Vida, sem se aperceber que o sentido teleológico da Vida não existe e pelo contrario o objectivo da Vida é ser Vivida e nada mais.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Uivo e outros Poemas




Uivo por Allen Ginsberg

Editado em 1957 o livro de “Uivo e outros poemas” foi a primeira obra, e talvez a melhor, de Allen Ginsberg. Foi recebida com um misto de aclamação pelo seu grupo de amigos e de indignação pelos puristas académicos e pelos conservadores auto proclamados defensores dos bons costumes e da (falsa) moral pública. 

Este últimos intentaram uma acção judicial contra o editor e contra o autor, pedindo a interdição de venda do livro, por obscenidade. Centenas de exemplares foram confiscados ao sair da tipografia e o empregado de uma livraria que vendia o livro foi preso. O editor também foi preso. No final o Supremo Tribunal da Califórnia deu razão a Ginsberg e aos defensores da liberdade de expressão.

Uivo é um poema sobre a sua geração, sobre “as mentes mais brilhantes da minha geração” levadas ao desespero e à loucura por uma sociedade capitalista, dura, materialista, repressiva, despojada de valores humanos que nada tinha para lhes oferecer. Uma sociedade “cuja alma é electricidade e bancos” caminhando para a guerra nuclear, “cujo destino é uma nuvem de hidrogénio assexuado”. Uma sociedade que enlouquece e confina os a hospitais como o de Rockland. Um poema de versos longos e livres, que nos leva aos infernos da droga, da pobreza, da repressão, da loucura, do desespero, mas que é simultâneamente muito humano, sentido e vivido.

Dos restantes 9 poemas, insertos na edição da Relógio d’Água, realço “América” um texto violentamente crítico da sociedade norte-americana, em que o poeta se dirige ao seu país, “América eu dei-te tudo e agora não sou nada”, apresentando uma longa lista de pedidos utópicos, porque sobre causas passadas, “América liberta o Tom Mooney/ América salva os republicanos espanhóis / América o Sacco e o Vanzetti não podem morrer”, explicando a sua posição (“América eu tenho um fraco pelos movimentos operários do mundo / América eu fui comunista quando miúdo e não me arrependo) e as suas dores (Eu não suporto a minha própria mente) e acaba desmistificando a propaganda belicista contra a Rússia (“A Rússia quer comer-nos vivos. O poder da Rússia é de loucos. / Quer tirar-nos os nossos carros das nossas garagens. / As ganas dela de fisgar Chicago) perguntando “América isto é correcto?”. Esta paranóia parece que ainda não passou.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Eu que servi o Rei de Inlaterra por Bohumil Hrabal

Uma primeira em que o narrador conta a sua vida, primeiro como jovem criado checo, profissão em que aprende a ver tudo, ouvir tudo mas em simultâneo não ver nada e não ouvir nada. O ordenado é pequeno mas as gorjetas generosas principalmente quando se serve os comerciantes, corretores e políticos locais nas suas noites de folia em que se empanturram de comida e bebida na companhia de lindas meninas.  

 Depois como jovem adulto que serve o Imperador da Etiópia enamora-se de uma ginasta alemã com quem casa em plena ocupação nazi. Os alemães humilham-no mas sobrevive à guerra e é mesmo preso no final o que lhe permite escapar a uma dura condenação por colaboracionismo. Graças a uma colecção de selos que a sua mulher roubara a judeus polacos consegue tornar o seu sonho realidade – torna-se hoteleiro, mas apesar disso não é aceite entre os seus antigos patrões como um deles.

Esta primeira parte escrita num estilo pícaro, leve e vibrante está cheia de humor e ingenuidade.

Na segunda parte em que o herói se retira para a floresta, para as terras anteriormente ocupadas por agricultores alemães entretanto expulsos, assistimos a uma reflexão profunda sobre o significado da vida e a escrita altera-se para um tom mais introspectivo, melancólico e humano.

Hrabal foi um autor controverso que apoiou simultaneamente o regime socialista checoslovaco, que promoveu as suas obras, e o grupo oposicionista Carta 77.