Amok
Qual a natureza da loucura tropical que se
apodera do ser humano e o compele a praticar as ações mais estranhas, díspares
e contrárias ao seu carácter? Que trauma, que sentimento desencadeiam este
estado de agitação, determinação e violência que os malaios designam por amok?
Classificado em termos clínicos como a síndrome
de amok por Joseph Westermeyer muito depois deste livro ter sido escrito e o
seu autor enterrado, consiste num “comportamento
homicida e consequentemente suicida de indivíduos instáveis mentalmente que
resulta em múltiplas lesões e mortes para os outros”. Foi no entanto Freud
quem primeiro estudou o tema. Eis a ciência a inspirar a literatura e depois a segui-la.
Uma relação dialética frutuosa.
O termo entrou no português vindo do oriente
como amoque, com o significado de acesso de loucura violenta e homicida, mas também
e mais correntemente numa versão mais branda de acesso de mau humor ou
irritabilidade.
O sentido do dever profissional, do dever
moral e da lealdade entranhados na mente humana podem ter efeitos estranhos e
fatais sobrepondo-se mesmo a outras obrigações sociais.
Nesta novela, publicada em 1922 no jornal Neue
Freie Presse, o isolamento cultural, a imersão numa civilização de que se não
percebem os contornos e as regras, a violência colonial, o clima adverso,
contribuem para um estado psicológico fragilizado de um homem de natureza fraca
e imoral que desemboca numa fatal obsessão irracional.
Stefan Zweig (1881-1942), escritor austríaco
filho de um rico industrial judeu, viu-se forçado com a emergência do nazismo ao exílio. Pouco depois, em 1938, a sua pátria foi anexada (o Anschluss) pela
Alemanha e um ano volvido, com a invasão da Polónia, começava a II Grande
Guerra.
Refugiou-se inicialmente no Reino Unido e
mais tarde no Brasil onde veio a suicidar-se, ingerindo uma dose excessiva de barbitúricos,
com a mulher Charlotte em 1942. Foi ele que num ensaio intitulado “Brasil, país
do futuro” anunciou ao mundo as potencialidades deste imenso estado prenhe de
potencialidade nunca concretizadas.
Amok foi adaptado ao cinema por duas vezes.