segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Como se rergue um Estado

Como se reergue um Estado por Salazar

Uma obra assinada por Salazar mas escrita a várias mãos com os seus colaboradores, publicada em língua francesa em 1937 pela Flammarion em Paris, regressa aos escaparates nesta época de crise.

A Flammarion era então uma editora próxima da Action Française um grupo de extrema-direita, fundado por Maurice Pujo mas que ganhou consistência e influência depois da I Grande Guerra sob a liderança de Charles Maurras. A Action Française foi um dos grupos que, depois da derrota da França pela Alemanha, apoiou o Estado colaboracionista de Vichy do marechal Petain aliado de Hitler. Percebe-se assim o interesse deste grupo em divulgar as ideias de Salazar.

No livro Salazar faz uma critica bem estruturada ao regime da I Republica que não conseguiu encontrar ao longo dos 16 anos de poder um rumo para o país, agravando as desigualdades e a dependência externa. Mas o que têm Salazar para contrapor às políticas da I República? Um programa anti-democrático (“somos anti-parlamentares, antidemocratas, antiliberais e queremos construir um Estado Corporativo”, “não discutimos Deus… não discutimos a Pátria, …não discutimos a autoridade, não discutimos a família, … não discutimos o trabalho”), um programa capitalista corporativista (“A família exige, por si, duas outras instituições – a propriedade privada e a herança”), um programa ultra conservador (“O trabalho da mulher fora do lar desagrega este…”), anti-comunista apesar de conhecer a obra da URSS (“Não tenho, de forma alguma, a intenção de negar as obras do Estado Soviético, grandes fábricas ou vastas construções”).
 

Salazar declara aqui que o Estado Novo não é fascista nem nacional-socialista uma vez que não é totalitário como estes. Naturalmente dirigindo-se a franceses em vésperas de uma guerra com a Alemanha Salazar evita assim alinhar-se pela Alemanha.

 

 


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A Festa da Insignificância

A Festa da Insignificância por Milan Kundera



O regresso aos temas de sempre  a leveza da vida contraposta, sobreposta, justaposta ao peso da necessidade, da criação de tudo o que tem valor. De um lado a seriedade, o fardo da responsabilidade do outro a alegria, duas concepções filosóficas da vida sempre em confronto no interior do ser humano tal como Milan Kundera o entende.

De alguns episódios da vida de quatro amigos, e de uma anedota sobre Estaline o autor faz uma ilustração de duas correntes filosóficas em diálogo. É Schopenhauer quem tem razão e a dá a Estaline, um homem que dedicou toda a sua vida e vontade a defender uma visão do mundo, uma representação da realidade? Ou é Estaline que, pela sua prática, dá razão a Schopenhauer? E será a quebra dessa vontade que explica a queda da União Soviética? E que importância têm estas questões perante a morte?



Como sempre aos olhos dos franceses os portugueses devem ocupar o lugar de empregados da limpeza, humildes, ignorantes, ingénuos e na sua inocência primitiva possuírem bom coração. O mito racista e paternalista francês que olha o português como o bom selvagem aqui também espelhado. Francamente mau vindo de um escritor com a envergadura, a experiência e a idade de Kundera que devia saber melhor do que reproduzir estereótipos xenófobos.
 
 

domingo, 7 de dezembro de 2014

As Coéforas de Ésquilo



Ésquilo (525 ac – 456 ac) foi um dos maiores dramaturgos da antiguidade grega. Dele chegaram até nós um conjunto pequeno mas extraordinário de peças de que As Coéforas são um dos expoentes. As coéforas são as carpideiras gregas que levavam oferendas aos mortos.

As Coéforas são a segunda peça de uma trilogia – sendo Agamémnon a primeira e As Eumênides a terceira - que conta a história de Agamémnon, Rei de Argos, e de seu filho Orestes.

Será legítimo um filho matar o assassino de seu Pai? Segundo os costumes da época tal não só seria legítimo como era um dever sagrado a que nenhum filho se devia furtar O mesmo costume que proclamava que nenhum filho deve matar sua Mãe. Mas e se o assassino fosse a mulher do assassinado e Mãe do vingador?

Filho da assassina de seu Pai Orestes enfrenta um dilema. Que fazer? Vingar o Pai e matar a Mãe ou deixar viver a Mãe não cumprindo a sua obrigação para com o seu Pai. Espartilhado entre duas Justiças, Orestes toma uma decisão depois do seu reencontro com a sua irmã Electra.

O Bastão de Licurgo

O Bastão de Licurgo

O Bastão de Licurgo, ou cítala, é um sistema de comunicação encriptada inventado e utilizado pelos chefes militares espartanos. Um bom título para uma aventura de espionagem, contra-espionagem, métodos de cifragem e decifragem.

Tem-se tornado um hábito que em Dezembro seja publicada uma nova aventura da dupla criada por Edgar P. Jacobs o capitão Blake e o Professor Mortimer e que cada historia anual seja apresentada em duas versões que apenas diferem na capa.  A deste ano é assinada por Yves Sente e André Julliard que já tinham colaborado noutras aventuras dos dois ingleses.

Mas é tarefa inglória procurar continuar a obra de Jacobs. Mais uma tentativa que fica longe do alvo.
 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Militarmusik

Militarmusik por Wladimir Kaminer

Um retrato divertido da vida de um jovem na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a escola secundária, o conservatório, o teatro, a música underground, as viagens pelo imensidão do país, os acampamentos nos bosques da Letónia, os concertos improvisados na Ucrânia, o serviço militar no exército e depois do fim do socialismo a tentação da emigração.

O desenrasca, a cunha, as constantes bebedeiras, a flexibilidade na aplicação das regras, o papel do Partido Comunista, dão-nos uma visão bem-humorada da sociedade socialista muito distante da dos estereótipos propagandísticos com que é descrita no Ocidente.

Fantástica a parte final em que o narrador segue de comboio para Berlim e nos vai contando as leituras que vai fazendo lendo vários livros ao mesmo tempo, intercalando livros de ficção científica com a obra de Soljenítsin sobre campos de trabalho.

Escrito por um russo emigrado na Alemanha, o livro é um misto de memórias da juventude vistas recordadas pelo prima distorçor de uma imaginação fértil com uma fina análise social dos últimos anos do socialismo soviético.