quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Carta à minha Filha de Maya Angelou

Num tom afetuoso, sereno e sábio Maya Angelou conta-nos em forma epistolar, pequenos episódios da sua vida dos quais retira lições de vida que nos fazem pensar e que são úteis para todos nós.

A tonalidade cristã que perpassa toda a narrativa surge como âncora de esperança e nunca como disseminação de duvidosos dogmas.

Nas cartas estão incluídos vários poemas de grande simplicidade estética e profundidade humana.

Um livro que nos conforta, ensina e encoraja a agir com dignidade, generosidade e retidão.

Maya Angelou (1928-2014), escritora negra norte-americana, teve uma vida cheia, agitada, internacional e polifacetada. Descendente de pessoas escravizadas levadas à força para os Estados Unidos da região norte de Angola, Maya Angelou cozinheira, dançarina num clube noturno, cantora, escritora e poetisa. Foi a primeira mulher negra guionista em Hollywood. Entre os seus livros contam-se sete autobiografias. Militou com Martin Luther King em prol dos direitos civis da comunidade afro-americana, apoiou a luta de Fidel Castro e a luta contra o apartheid. Viveu na Europa e em África, nomeadamente em Acra onde conheceu Malcom X. Vários dos seus livros foram adaptados para o cinema. Recebeu diversos prémios.

Estranhamente na biografia de Maya Angelou impressa na badana do livro na edição da Lua de Papel não se refere a sua negritude que, contudo, era uma parte essencial da sua identidade. Como é bem patente até neste livro.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

A Obra ao Negro


A Obra ao Negro de Marguerite Yourcenar

Um romance histórico sobre a vida de Zenão Ligre, um sábio da Renascença, filosofo, médico, alquimista, um homem que deixa para trás uma fortuna e se dedica ao estudo e à reflexão e, por isso, é proscrito, perseguido e, finalmente, preso – um personagem, obviamente, imaginado.

A Europa mergulhada em guerras, a Espanha no seu apogeu, a Igreja que ergue fogueiras para queimar os seus opositores, classificados de hereges, a ciência a irromper dos velhos preceitos alquímicos e a começar a espalhar a sua luz contra as trevas religiosas.

As seitas que se multiplicam, a repressão sobre os anabatistas, a rebelião de Münster e consequente banho de sangue, o norte da Europa, o Império Otomano, o século XVI no seu esplendor.

Um livro de ritmos diferentes, de tons diversos, que acompanha Zenão e o seu primo, um cabo-de-guerra, nas suas separadas errâncias pela Europa, então quase unificada sob o jugo dos espanhóis, e nos seus breves encontros ocasionais. Mas que também nos conta episódios da vida dos Ligre, pelo casamento unidos aos Fugger a mais rica família de banqueiros de Augsburg.

Um livro profundo, que reflete sobre diversos temas de grande atualidade, nomeadamente sobre a importância da liberdade de pensamento, a relatividade dos conceitos, a necessidade de abertura de espírito para avançar o conhecimento e a verdade.

O título da obra advém da primeira fase, o nigredo, da Magnum Opus o processo alquímico de produção da pedra filosofal – a substancia capaz de transformar o vil metal em ouro.

Marguerite Yourcenar (1903-1987), nascida em Bruxelas, escritora de língua francesa foi a primeira mulher a entrar na Academia Francesa.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Libertar o Futuro

Libertar o Futuro de Antonio Gramsci

Um conjunto de artigos e pequenos textos escritos por Antonio Gransci (1891-1937) entre 1916 e 1926 agora reeditados numa parceria entre a Seara Nova e Outro Modo.

Gramsci, jornalista de profissão, publicou no Avanti, então jornal do Partido Socialista, em que militou até à cisão que levou à criação do Partido Comunista Italiano em 1921 de que foi um dos mais destacados dirigentes. Nesse caminho para a fundação do PCI o jornal que Gramsci criou com Palmiro Togliatti, o L'Ordine Nuovo, foi fundamental.

Neste livro encontramos vários textos publicados nestes dois jornais. Em 1924 entra no Parlamento eleito pelo Véneto. Aqui encontramos o seu discurso parlamentar durante a discussão da Lei fascista que proibiu a maçonaria e outras organizações secretas.

O período em que escreveu estes textos dispersos foi o compreendido entre a parte final da I Guerra Mundial e a sua prisão em 1926. Um tempo em que o governo burguês democrático faliu e o fascismo ascendeu ao poder (1922).

Gramsci escreve sobre a atualidade política do seu tempo pelo que episódios históricos como a instauração de uma ditadura fascista em Fiume por Gabriele D’Annunzio, o primeiro a intitular-se Duce, as lutas operárias, o assassinato de Matteotti em 1924, entre outros encontram aqui eco.

Percorrendo 10 anos intensos estes textos mostram a evolução do pensamento de Gramsci primeiro como socialista, depois como apoiante da Revolução de Outubro e finalmente como dirigente comunista. Esta evolução é particularmente patente nas diversas análises sobre o movimento fascista que faz ao longo dos anos – algumas bem ingénuas e erradas.

Muito interessante a sua opinião sobre os sindicatos e a posição dos comunistas no seu interior.

Após a sua prisão em 1926 foi condenado e só saiu da cadeia em 1934 já muito doente. Morreu aos 46 anos. Durante o confinamento escreveu a sua obra principal editada postumamente, os famosos, Cadernos do Cárcere.