O Bispo Negro por Alexandre Herculano
Reúnem-se nesta edição dos Livros RTP dois
contos de cariz histórico do escritor português oitocentista Alexandre
Herculano: o Bispo Negro e Arras por Foro de Espanha.
O Bispo Negro relata-nos a reação de Don
Afonso Henriques à tentativa de interferência do poderoso Bispo de Coimbra na
sua política independentista. O nosso primeiro Rei não hesitou em afastar o
clérigo e em seu lugar elevar à dignidade episcopal um prelado negro Çoleima,
resistindo mesmo à intervenção de um Cardeal enviado pelo Papa para restaurar o
anterior Dom Bernardo no seu antigo cargo.
Arras por foro de Espanha, mais controverso,
apresenta-nos um Rei, D. Fernando, sob uma luz negativa de fraqueza e indecisão
e com traços ainda mais carregados de ignomínia a sua mulher Dona Leonor Teles
a quem acusa de adúltera e borregã. A parcialidade do autor é evidente quer
pelos traços com que descreve a Rainha quer com que desenha a personalidade do Formoso
soberano. Papel central representa o Povo de Lisboa, oposto ao casamento real,
visto aqui como guardião da moral católica.
Na verdade D. Fernando foi um Rei enérgico
que procurou expandir o território, tendo chegado a ser aclamado Rei em várias
cidades galegas. Foi também ele que com a Lei das Sismarias reformou e
modernizou o sistema agrário que vigorava até então. O envolvimento de Portugal
na guerra de sucessão de Castela – D. Fernando era pretendente legitimo ao
trono castelhano -
Completamente reabilitado surge o fidalgo
Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos de Dona Inês de Castro e fidalgo que
integrou o exército espanhol que cercou e devastou Lisboa.
Recorrendo a frases longas de belo efeito,
Alexandre Herculano sabe como ninguém criar atmosferas que nos transportam para
a Idade Média e nos envolvem nos episódios históricos que romanceia com grande
liberdade literária.
Em Arras por foro de Espanha encontramos
belas descrições da Lisboa de então, a toponímia e a geografia da cidade que
hoje é a nossa capital – “O Sol, que havia meia hora subira do Oriente, cingido
da sua auréola da vermelhidão, no meio da atmosfera turva e acinzentada de um
dia de Agosto, dava de chapa no rossio ou praça onde avultava o Mosteiro de São
Domingos, rodeado de hortas e pomares, que verdejavam pelo vale da Mouraria, ao
oriente, e pelo de Valverde ao norte”.