quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Do Casamento e da Morte de Émile Zola


Um retracto sociológico da sociedade francesa do século XIX ilustrado em nove contos em que personagens das diversas classes sociais se casam ou chegam ao fim da vida.

Do mais simples casamento do pobre, aos mais opulentos esponsais da nobreza, do funeral da criança pobre e frágil, cujos pais não podem pagar os tratamentos e o aquecimento que a poderia salvar, atirada para uma vala comum ao enterro no imponente jazigo de família, para onde o caixão é levado em ombros de ministros, académicos e clérigos, temos uma panorâmica social variada e muito detalhada, descrita com mestria, realismo, distanciamento e neutralidade.

Um livro interessante para sociólogos, historiadores ou para simples  amantes da Literatura.

Sinais de Fogo de Jorge de Sena


Um livro misógino, em que as mulheres são retratadas como prostitutas ou como limitadas intelectualmente. As criadas servem para todo o serviço e quando se revoltam são despedidas sem cerimónias, as mulheres casadas apresentadas como adulteras ou submissas, as solteiras separadas entre as virgens e as desgraçadas.

Um livro homofóbico em que os homossexuais são ridicularizados e apresentados como aberrações causadoras de náusea e de nojo. Absurdo o conceito de homossexual de Jorge de Sena em que o homossexual ativo é considerado heterossexual!

Um livro em que as classes inferiores são tratadas com desprezo e prepotência pelas personagens que podemos identificar com uma certa classe média de serviços (professores, oficiais de baixa patente, oficiais da marinha mercantes, etc.).

Um livro cheio de preconceitos inaceitáveis, de reflexões infantis ou de raciocínio duvidoso. Situado em meados dos anos 30 muitas das ideias aqui expressas eram já obsoletas nessa altura, um tempo em que o feminismo se afirmava, a igualdade de classes e o socialismo eram reclamados por toda a Europa. Escrito na década de 60 do século XX as ideias expressas vão a contra corrente com os movimentos de afirmação dos direitos cívicos, da explosão da liberdade sexual, da contestação política. 

O personagem do livro conta com detalhe as suas múltiplas aventuras sexuais e as dos seus amigos. As suas exclusivamente com mulheres, as dos seus amigos quase sempre envolvendo conotações homossexuais.

A ação tem como pano de fundo o início da guerra civil espanhola, que despoleta uma forte tensão em Portugal, quer em Lisboa quer na Figueira da Foz locais onde a trama se desenrola.

E uma obra medíocre que não merce a estranha veneração que tem tido pelas elites académicas e literárias portuguesas. Se fosse um filme seria certamente classificado como pornográfico.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A Vida - Modo de Usar de Georges Perec

A Vida Modo de Usar de Georges Perec


Quantas histórias pode um prédio parisiense albergar? Quantas personagens se podem cruzar nos quartos, nas cozinhas, nas casas-de-banho, nos corredores, nas escadas, nos salões, nos elevadores, nas lojas, nas arrumações e nos saguões de um edifício centenário? Como capturar exaustivamente um momento, o preciso momento da morte de alguém?

Um grande projecto, que uma vida longa não foi suficiente para realizar, fica incompleto. Um quadro ambicioso e muito idealizado e planeado por um experiente e talentoso pintor fica praticamente em branco. A inconclusão das pretensões humanas surge em forte contraste com a completude das descrições das mobílias, das obras-de-arte, das paisagens, dos pessoas e dos objectos Como se pudéssemos, através da atenção minuciosa e da descrição exaustiva, apreender a realidade circundante, mas não pudéssemos agir plenamente, ficando a obra humana permanentemente inacabada.

Neste prédio viveram e vivem ricos e pobres, patrões, nos andares nobres, e criados nas águas-furtadas, homens e mulheres, nacionais e estrangeiros, diplomatas e inventores, patrões de indústria e marceneiros, antiquários e coleccionadores, jovens e velhos, extrovertidos e introvertidos. Tal variedade humana cristaliza-se em diferentes estilos de vida, milhentos episódios, nascimentos e mortes, uma variedade infinda que no fundo caracteriza a Vida na sua profusão e variedade

Criado com recurso à técnica da escrita condicionada, Vida Modo de Usar, é a obra-prima de George Perec.