A Vida Modo de Usar de Georges Perec
Quantas histórias pode um prédio
parisiense albergar? Quantas personagens se podem cruzar nos quartos, nas
cozinhas, nas casas-de-banho, nos corredores, nas escadas, nos salões, nos
elevadores, nas lojas, nas arrumações e nos saguões de um edifício centenário?
Como capturar exaustivamente um momento, o preciso momento da morte de alguém?
Um grande projecto, que uma vida
longa não foi suficiente para realizar, fica incompleto. Um quadro ambicioso e
muito idealizado e planeado por um experiente e talentoso pintor fica
praticamente em branco. A inconclusão das pretensões humanas surge em forte
contraste com a completude das descrições das mobílias, das obras-de-arte, das
paisagens, dos pessoas e dos objectos Como se pudéssemos, através da atenção
minuciosa e da descrição exaustiva, apreender a realidade circundante, mas não
pudéssemos agir plenamente, ficando a obra humana permanentemente inacabada.
Neste prédio viveram e vivem
ricos e pobres, patrões, nos andares nobres, e criados nas águas-furtadas,
homens e mulheres, nacionais e estrangeiros, diplomatas e inventores, patrões
de indústria e marceneiros, antiquários e coleccionadores, jovens e velhos,
extrovertidos e introvertidos. Tal variedade humana cristaliza-se em diferentes
estilos de vida, milhentos episódios, nascimentos e mortes, uma variedade
infinda que no fundo caracteriza a Vida na sua profusão e variedade
Criado com recurso à técnica da
escrita condicionada, Vida Modo de Usar, é a obra-prima de George Perec.