sábado, 27 de julho de 2013

Diário de um Homem Supérfluo por Ivan Turgueniev 


Três amores não correspondidos e um casamento de conveniência. Um príncipe, longe da corte, de passagem pelo mundo do funcionalismo de província. Um impulso que nasce forte mas cedo perde a sua força e se esvai num rasto de impotência, humilhação e sofrimento. Uma morte muito cedo anunciada e que rapidamente se concretiza.


 Pode um ser humano ser supérfluo? Pode a sua passagem pela terra não ter marcado nada nem ninguém? Ivan Turgenev, como muitos outris autores russos do século XIX acredita que sim. Não partilho da ideia da existência de uma pessoa que não faça falta, acredito que todos somos únicos, irrepetíveis e indispensáveis, embora nem sempre no papel que alguns querem protagonizar. 

sábado, 20 de julho de 2013

O Baile

O Baile por Irène Némirovsky


Uma família de judeus alemães pobres triunfa no mundo dos negócios e anseia por ser aceite pela alta sociedade. Para isso planeiam um grande baile, com orquestra e beberete, para o qual seleccionam cuidadosamente uma grande lista de convidados.

No decurso da preparação do baile as relações familiares entre marido e mulher e entre mãe e filha são submetidas a uma pressão crescente que culmina numa estranha reconciliação assente num equívoco. 

A ambição, a vaidade, a ânsia de reconhecimento, o medo da rejeição, a falta de atenção aos filhos, os desejos adolescentes de ser tratado como adultos, as birras da falta de educação e a vingança estão condensados neste pequeno trabalho de Irène Némirovsky.   

Num estilo simples, por vezes recorrendo a uma linguagem pobre e cheia de lugares comuns a obra acaba por resultar mais pelo enredo e pelo desfecho do que pela técnica estilista.

A Mesa Limão

A Mesa Limão de Julian Barnes

Uma colecção de onze histórias com uma temática comum o envelhecimento visto por dentro, pelos homens e mulheres que em si mesmos vão notando os sinais da decadência física e intelectual e meditam sobre a sua própria mortalidade.

Os personagens de Julian Barnes não encaram a sua velhice com sentimento positivo, planeando o que fazer com o tempo que dispõem tendo em conta as limitações que vão tendo, mas de uma forma amarga, voltando-se para o passado que lembram com um misto de nostalgia, remorso e desilusão ou tornando-se rabugentos zangados com o mundo. Não são, na sua maioria, doentes terminais nem na generalidade têm idade muito avançada, são antes pessoas submergidas pelo espectro de uma velhice que não conseguem enfrentar.

Vidas simples ou complexas, artistas ou pacatos trabalhadores, todos ficam atordoados com o declínio das suas faculdades e experimentam um pavor e uma amargura que não podem verdadeiramente compartilhar com ninguém. Estão sós perante um inimigo fatal: a Morte.


Um livro que, nos interroga, como o faz Sibelius num dos contos, sobre o tempo mais adequado ao último movimento da vida, da nossa vida. O compositor pelo seu lado decide-se por marcar na sua pauta um sostenuto deixando para o maestro a decisão final.  Eu, por mim, faria o mesmo.

domingo, 14 de julho de 2013

The sense of an Ending

The sense of an Ending por Julian Barnes

Uma reflexão exemplificada sobre o tempo, a memória e a História. Podemos confiar na nossa memória? Lembramo-nos de factos ou da nossa interpretação deles quando os vivenciamos? Podemos confiar nos documentos? Ou haverá outros que os desmentem? Como poderá a História erguer-se neste espaço em que a memória nos atraiçoa e a documentação nos mente?

Tony Webster debate-se na neblina da memória e dos documentos para reconstituir as razões que levaram o seu jovem e brilhante amigo, Adrian, a suicidar-se, em plena juventude, há 40 anos atrás, uma morte que na altura ele julgou ser motivada por razões diferentes daquelas que agora está prestes a descobrir.

A vida é uma dádiva que podemos rejeitar? È uma dádiva mas vem, tantas vezes, com tais condições, que se transformam num preço que não estamos dispostos a pagar. Será então justificado o suicídio?

Os remorsos atormentam Webster quando lê o que ele próprio escreveu quatro décadas atrás e pouco a pouco se vai apercebendo do seu contributo para todo um drama que poderia ter sido evitado. E o remorso não tem cura, nem o perdão o pode atenuar.

Um erro de leitura de uma frase da mãe da namorada, dita enquanto prepara os ovos para o pequeno-almoço, pode levar ao suicídio do nosso melhor amigo, pessoa que ela nem conhece nesse momento? Uma frase que pensámos que nos ajudava a ler a filha e que na verdade nos devia ter alertado para a personalidade de quem a proferia.


Julian Barnes é, sem dúvida, um potencial Prémio Nobel.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Isto não é um conto

Isto não é um conto por Denis Diderot


Um conjunto de contos. Um tema central: o amor humano.

Os primeiros dois são ilustrações no masculino e no feminino da tirania e do martírio do amor não correspondido; de como o amado pode manipular, oprimir e explorar sem escrúpulos nem remorsos quem o ama. O amor como uma armadilha, como teia inescapável mesmo quando se tem a certeza de estar preso a quem não o merce,

Os restantes contos exemplificam um caso de amor fraternal, entre irmãos que é, aqui, espontâneo, inquebrantável e duradoiro – muito para além da morte, muito para além das gerações.

Se o Amor entre um homem e uma mulher pode acabar por ser traído, pode acabar com uma das partes humilhada e ofendida, o Amor fraternal é eterno e inviolável.

O estilo coloquial, a forma um diálogo entre amigos, os temas abordados contribuem para que estes contos representem uma nova fórmula na arte de escrever contos.

Note-se a ironia dos contos - o primeiro chama-se "Isto não é um conto" e o segundo "Segundo conto". Este título inspirou séculos mais tarde um quadro célebre de René Magritte,

Rosa do Riboque

Rosa do Riboque de Albertino Bragança

Rosa do Riboque e outros contos marca o início da Literatura são-tomense no período pós-independência.

Alguns temas são marcadamente políticos nomeadamente a figura comovente de Rosa, uma jovem mulher do povo, alegre e despreocupada que por solidariedade e generosidade organiza apoio as famílias dos estivadores em greve. É presa pelas autoridades coloniais portuguesas, que a torturam. Face à tortura permanece firme demonstrando uma coragem que nos toca profundamente

Noutros contos podemos perceber a realidade rural e as suas estruturas familiares de São Tomé nas figuras bem desenhadas dos personagens.

A realidade de um pequeno país em que se falam várias línguas e em que a versão local do português, com estrutura específica, se tornou de um elo de união numa língua das elites governamentais.
 

O autor Albertino Bragança, é um importante político do seu país, tendo por diversas vezes desempenhado funções ministeriais. As suas incursões no mundo das letras têm contribuído decisivamente para a afirmação da ainda frágil literatura são-tomense.