quinta-feira, 30 de maio de 2019

O Homem que era 5ª feira


O homem que era 5ªfeira por C. K. Chesterton

Uma louca, mas muito rica e inteligente, alegoria religiosa do incessante combate entre o Bem e o Mal no interior de cada um e na sociedade criada por todos. O jogo de mascaras da vida, em que, muitas vezes, o visível esconde o invisível que, contudo, está sempre mas sempre pronto a irromper das profundidades e brilhar à superfície.

O absurdo, o exagerado e o caricatural aliados com mestria ao humor e à subtileza, para nos mostrar a relação de Deus com as suas criaturas, o esforço do ser humano para seguir o caminho reto através de uma estrada insana, difícil e dolorosa.

Nada do que parece é, os inimigos são no fundo amigos, o bombista o polícia, o demónio Deus. Uma longa estrada até à revelação e à reconciliação. Mas todo o mal e sofrimento são apenas provações para testar a nossa resolução e a nossa constância.

Deus/Domingo fala-nos no escuro inicial e só volta ao nosso convívio no final de tudo. Esse silêncio e a sua aparente transformação em demónio são a encenação necessária a essa provação.

Um livro que inicialmente surge como uma vulgar comédia ligeira e que pouco a pouco vai tomando um caráter mais estranho, até que finalmente emerge uma mensagem mais clara e mística.

C. K. Chesterton (1874-1936), inglês, artista polifacetado, filósofo e teólogo escreveu diversos romances que se celebrizaram.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Billy Bud

Billy Bud de Herman Melville

Um jovem forte, belo e ingénuo marinheiro é incorporado à força na Marinha de Guerra inglesa. Pela sua candura, boa disposição e retidão torna-se popular entre os colegas mas simultaneamente suscita um ódio tão profundo como inexplicável de um oficial subalterno.

A eterna luta entre a ingenuidade e a intriga, entre Bem e o Mal, entre a Justiça e a Lei, entre a moral e disciplina militar em que as primeiras raramente se conseguem afirmar e as segundas imperam.

A história passa-se depois das revoltas de Spithead e de Nore em 1797, num momento em que o Reino Unido mantinha uma guerra contra a França revolucionária, em que milhares de marinheiros da Marinha Real britânica se rebelaram em grande número contra as condições de vida e as sistemáticas injustiças abordo dos navios de guerra. Este contexto histórico explica em boa medida várias decisões tomadas pelos principais personagens.

Um tempo em que “dificilmente um marinheiro ou um oficial subalterno conseguia falar ao comandante”, um tempo confuso e caótico em que para muitos “o espirito da época aparecia-lhes como a figura do gigante Adamastor de Camões: um eclipse ameaçador cheio de prodígio e mistério”.

O romance termina com um belo poema que nos fala do destino trágico de Billy Bud “Estás aí sentinela?/ Vem, solta-me um pouco os ferros dos pulsos/ E embala-me docemente/ Tenho sono e as algas giram à minha volta”.

A última obra de Herman de Melville (que nela trabalhou a partir de 1888 até à sua morte três anos depois. Só foi publicada em 1924.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

A Engrenagem


A Engrenagem por Soeiro Pereira Gomes

A passagem traumática e brutal de uma sociedade rural para o novo paradigma industrial. A proletarização dos camponeses que, em pouco tempo, se vêm desapossados das suas terras, impelidos para a grande fábrica, com todo um cortejo de devastação, miséria e fome.

As condições de trabalho, os consequentes acidentes, o desemprego, as pequenas ambições, os amores ingénuos, estão admiravelmente descritas nesta obra-prima de literatura portuguesa.

Um tempo de precariedade, de rol na mercearia, de arbitrariedades na Justiça, de abandono na doença, que desestrutura a antiga sociedade agrícola e lhe impõe uma nova organização centrada na grande indústria. Os homens desorientados com as mudanças, iludidos com pequenos ganhos ou avanços de carreira, vão-se adaptando a custo e pouco-a-pouco ganhando uma nova consciência que os impele para se unirem para zelar pelos seus direitos.

Soeiro Pereira Gomes (1910-1949), é justamente considerado um dos maiores escritores portugueses do século XX. Sobre ele se escreveu “Militante comunista, Soeiro Pereira Gomes foi membro do Comité Central do PCP, o que o levou a entrar na clandestinidade em 1943, condição em que viria a morrer seis anos depois, vítima de tuberculose, impossibilitado de receber o tratamento médico de que necessitava”.