domingo, 29 de outubro de 2023

manhã e noite


 

manhã e noite de Jon Fosse

 

Um livro terno, comovente, delicado, leve e suave, extremamente humano que nos relata dois momentos cruciais da vida de qualquer pessoa, dois momentos de que parecemos ausentes, que não conhecemos, mas que dramaticamente delimitam e limitam a nossa existência.

 

Johannes, filho de Olai e Marta, irmão de Magda, amigo de Peter, casado com Erna, pai de muitos filhos, velho pescador reformado, homem tranquilo, de poucas falas, terra-a-terra, mas sólido e bondoso é a personagem central em torno da qual tudo se passa.

 

A prosa é lenta, repetitiva, criando uma cadência própria, uma fluência natural, ondulante, que cria um ambiente onírico e misterioso que, qual fumo, se espraia no ar antes de se desvanecer. Uma escrita simples, sem grandes recursos de variedade vocabular ou reflexão filosófica explícita, mas que nos prende e nos leva por um caminho de descoberta dos sentimentos mais profundos e genuínos para os quais, a maior parte das vezes, não encontramos palavras para os transmitir e só os atos e a introspeção os podem revelar.

 

Jon Fosse (n. 1959), romancista e dramaturgo norueguês, recebeu numerosos prémios literários internacionais. É o vencedor do Prémio Nobel deste ano de 2023 – “pelas suas peças inovadoras que dão voz ao indizível”.

 

Recomendo vivamente.

domingo, 15 de outubro de 2023

Terra Alta II – Independência


 

Terra Alta II – Independência por Javier Cercas

 

O segundo livro de uma trilogia que nos relata a história do Inspetor Melchor dos Moços de Esquadra, a Polícia da Catalunha. Um espanhol entre catalães.

 

Neste volume Melchor tem de resolver um estranho caso de chantagem sobre a Presidente da Câmara de Barcelona. Para isso é requisitado do seu posto na Terra Alta para se integrar na equipa do seu antigo chefe. Como sempre resolve o caso a dois tempos, em termos policiais e em termos reais.

 

No curso deste caso o inspetor descobre também os assassinos da sua mãe, uma prostituta, morta por quatro jovens agora adultos. A vingança não se faz esperar.

 

Javier Cercas envereda decididamente pelo policial abandonando os temas literários clássicos e especializando-se neste género considerado menor. A leitura é agradável e fácil. Como exige o guião destas histórias de polícias e criminosos, não há reflexão social ou humana séria, apenas a hábil descrição de uma série acontecimentos que levam, quase em linha reta ao desfecho esperado.

 

A forma ligeira, abertamente pro Espanha e a preto e branco como é tratado o processo do referendo e da independência catalã mostra como estamos distante da Literatura com L grande. É pena.

domingo, 1 de outubro de 2023

Géopolitique des Mers


 

Géopolitique des Mers por Maxence Brischoux

 

Os mares estão a mudar. Antes meio hostil, infinito e anárquico hoje os mares surgem como rota do tráfego de mercadorias, por aí passando mais de 90% das mercadorias em trânsito internacional, fonte de recursos como a pesca, o turismo, mas também de passagem de cabos de fibra ótica ligando continentes e ilhas e a exploração de petróleo e gás. O mar é cada vez mais precioso e a extração de nódulos polimetálicos vem acrescentar-lhe valor.

 

A presença humana constante tem vindo a territorializar os mares e os Estados procuram estender a sua soberania às águas antes consideradas como comuns.

 

Este livro descreve e debate as alterações que a tecnologia e a globalização vieram acelerar e as implicações geopolíticas e geoestratégicas que com elas emergem. Desde logo a centralidade do Pacífico em detrimento do Atlântico. As três maiores economias mundiais (China, Estados Unidos e Índia) ficam no Pacífico e aí encontramos também o Japão, a Indonésia, Singapura e a República da Coreia. Os grandes construtores navais, as grandes frotas, a maiores armadas todos se localizam no Pacífico. A Europa fica descentrada. Continuará verdadeira a cessão de que “quem controla os mares controla o mundo”? Que mudanças esperar no domínio dos mares?

 

Maxence Brischoux, francês é um investigador do Centro Thucydide em Paris e membro da redação da revista Commentaire.