quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

D. Afonso III

D. Afonso III por Diogo Freitas do Amaral

Uma abordagem diferente do reinado de D. Afonso III, o Bolonhês, habitualmente considerado um traidor por se ter aliado a uma potência estrangeira, a Igreja Romana, para através de uma sangrenta guerra civil se apoderar do reino destronando o seu irmão D. Sancho II.

Usando conceitos contemporâneos Diogo Freitas do Amaral equipara o Vaticano à ONU para nos explicar que não se tratou de uma odiosa intervenção estrangeira mas antes uma operação de “salvaguarda da paz” legitimada por uma autoridade internacional. A guerra civil que se seguiu entre os portugueses partidários de D. Sancho II e os estrangeiros que pretendiam D. Afonso no trono não é para Freitas do Amaral tal coisa, antes uma operação de “imposição da Paz”. Só falta pintar o elmo de D. Afonso de azul, para o transformar num capacete azul ao serviço da ONU. Chega a roçar o ridículo este conjunto de argumentos absurdos.

Freitas no seu afã de glorificar D. Afonso transforma-lhe todas as ações em ouro, até a bigamia – o nosso rei foi casado com duas mulheres em simultâneo, o que lhe valeu a censura papal – é elogiada como rasgo estratégico de primeira ordem.

O livro tem, contudo, dois méritos: chamar à atenção do um Rei que incorporou o Algarve no país, o de deslocar para esta época o pináculo da poesia trovadoresca ajudando a desfazer o mito de D. Diniz.

Lê-se mas não se acredita no que escreve. O próprio autor reconhece a falta de rigor histórico da obra.

A viúva e o Papagaio

A viúva e o Papagaio de Virginia Woolf

Um pequeno conto juvenil, imaginativo e singelo sobre uma viúva a quem a morte de um familiar chegado mas com quem já não tinha contacto há muitos anos a leva a fazer uma viagem à sua terra natal na Inglaterra rural.

Onde teria o avarento parente escondido a herança? Só o astuto, estranho e linguarudo papagaio cinzento o sabe.

Simples, divertido e didático como só da pena de uma grande escritora poderia sair, foi escrito por Virginia Woolf para o jornalinho dos seus sobrinhos quando estes eram crianças.

Incluído no Plano Nacional de Leitura para alunos do 5º ano. Uma boa escolha.

domingo, 22 de dezembro de 2019

O Dragão

O Dragão por Luísa Ducla Soares

Eis um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 5º ano de escolaridade. Trata-se de uma história simples, do reino do fantástico, onde um dragão surge do nada e cresce descontroladamente.

O livro contudo encerra uma série de mensagens que podemos e devemos questionar se é o tipo de educação que queremos dar aos nossos filhos.

Primeiro e mais grave é a propagação de preconceitos anti chineses, descrevendo duas vezes este povo como “amarelos” e fazendo, inclusivamente, graças com esse facto.

Ora sabe-se, bastando uma simples observação rápida, que os chineses não são amarelos antes mais brancos que a generalidade dos portugueses. Sabe-se também que desde sempre os chineses foram considerados pelos europeus como brancos, assim sendo referidos até ao final do século XVIII.

A designação de amarelos tomou forma e proporção generalizada durante a Guerra do Opio levada a cabo pelo Reino Unido contra a China no século XIX.  Pretendendo demonizar o adversários os ingleses começaram a falar do “perigo amarelo” englobando chineses e japoneses.

O termo “amarelo” é assim pejorativo e ofensivo, mas no texto passa por neutro e factual. É, assim, de se propagam preconceitos raciais desde tenra idade.

Negativo também o facto de o dragão ser aceite na família devido ao seu trabalho e não pelo afeto que a criança por ele nutria. Também errada é a designação República da China quando o nome desse país é República Popular da China.

Um livro que devia ser retirado do Plano Nacional de Leitura.

Maria Luísa Bliebernicht Ducla Soares de Sottomayor Cardia (m. 1939), escritora de livros infantis tem uma vasta obra neste campo.