terça-feira, 28 de junho de 2016

Portugal na Bancarrota, Cinco Séculos de História da Dívida Soberana Portuguesa



Portugal na Bancarrota de Jorge Nascimento Rodrigues

Portugal entrou em bancarrota várias vezes ao longo da sua história secular. De todas saiu, mais ou menos depressa, através do recurso à inflação. Hoje essa opção está vedada porque o Governo abdicou da moeda nacional. Por isso a crise persiste já há quase uma década, atirando centenas de milhares de portugueses para a emigração e milhões para a privação e a pobreza. As elites falam desta situação aflitiva como sendo “o novo normal”.

Jorge Nacimento Rodrigues leva-nos ao longo da história económica portuguesa aos momentos cruciais das bancarrotas portuguesas, explicando as causas e as formas, por vezes humilhantes para o nosso país, como os governantes geriram essa situação.

O autor critica as condições impostas à Grécia em que foi acordado dar “prioridade ao pagamento da dívida em relação a toda outra despesa pública consagrada na Constituição; e é referido na imprensa internacional, o acesso prioritário dos credores ao ouro do Banco Central da Grécia” estas condições recorda “pouco diferem das condições exigidas pela Sociedade das Nações de um empréstimo a Portugal em 1928 …Estas condições não foram aceites pelos responsáveis políticos portugueses”. E concluiu – “Os atuais responsáveis políticos dos países devedores demonstram com as suas decisões estar dispostos a abdicar de muito mais soberania e a submeter-se aos credores a um grau que os líderes políticos de outrora jamais aceitariam”.

A primeira bancarrota portuguesa ocorreu em 1560 em plena fase dos descobrimentos mas em que outras potencias começavam já a ocupar o lugar de Portugal nas rotas da Índia e do comércio da pimenta e outras especiarias. Curiosamente uma das causas apontadas por Jorge Nascimento Rodrigues para esta bancarrota é a da tardia adoção pelos monopólios reais e pelos comerciantes portugueses dos números árabes e das regras da contabilidade continuando apegados à numeração romana e a processos de escrituração ultrapassados.

A segunda bancarrota teve lugar em 1605, durante a ocupação espanhola, após a derrota estratégica na batalha de Bantam em que Portugal é derrotado pela Holanda perdendo o “domínio da região das Ilhas das Especiarias – as Molucas” Pouco depois “Em 1605 os holandeses conquistariam Ambom e Tidore ao controlo português”.

O século XIX foi o que mais bancarrotas portuguesas assistiu. Por seis vezes Portugal entrou em incumprimento da dívida externa: 1828, 1837, 1841, 1846, 1850 e 1892. As bancarrotas estão, segundo o autor, em geral ligadas ao esgotamento de um modelo económico e ao falhanço em o reconhecer e substituir por outro mais adequado.

Um bom livro de divulgação da história económica portuguesa, embora assente num número muito limitado de fontes.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

O Imperialismo Fase Superior do Capitalismo



O Imperialismo fase superior do Capitalismo por V.I. Lenine

Escrito em 1916 este livro faz este ano 100 anos. Ao assinalar este centésimo aniversário da obra o leitor não pode deixar de verificar a extrema atualidade do tema, da análise e das conclusões.

Prosseguindo na senda de Marx, o autor analisa a sociedade do início do século XX chegando à conclusão que ao capitalismo concorrencial e atomizado sucedera uma nova forma de organização centrada nos monopólios e dominada pelo capital financeiro. Uma nova fase, mais avançada da sociedade capitalistas, baseada num alargamento dos mercados a todo o mundo e a uma intensa competição imperialista, que desembocaria na primeira guerra mundial, entre as potências dominantes.

O grau de concentração monopolista permitiria já, em muitos domínios, e com grande vantagem para a população, a socialização da produção através da propriedade estatal, o que de facto se veio a verificar em numerosos países.   

Ao analisar a partilha do mundo entre as várias grandes potências, Lenine escreve sobre o nosso país: “O exemplo de Portugal mostra-nos uma forma um pouco diferente de dependência financeira e diplomática, ainda que conservando a independência política. Portugal é um Estado independente, soberano, mas na realidade há mais de duzentos anos, desde a guerra de Sucessão de Espanha (1701-1714), que está sob protetorado inglês”.

É esta dependência externa, esta dominação estrangeira, que cerceia o nosso crescimento e nos manteve sempre um país atrasado, ignorante e pobre.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Um Copo de Cólera



Um Copo de Cólera de Raduan Nassar

Um livro que se desenrola num crescendo de violência, primeiro na sua ausência, numa atmosfera de aparente apaziguamento depois de uma noite de amor, mas que se vai transformando num clima de confrontação verbal intelectualizada que, finalmente, quando os argumentos se esgotam para homem, descamba numa agressão física descontrolada.

O livro está dividido em sete capítulos: A Chegada, Na Cama, O Levantar, O Banho, O Café da Manhã, O Esporro, A Chegada, formando como que um circulo, o último capítulo tem o mesmo nome que o primeiro, o ciclo da violência e da reconciliação, o ciclo maldito da violência doméstica.

A discussão entre o casal, apresentada como um monólogo do elemento masculino, percorre um vasto leque de temas que vão desde o cinismo social e a perca de fé na capacidade de redenção do género humano, ao racismo, à prepotência laboral, à vida e à morte.

Estilisticamente o livro, escrito no início dos anos 70 do século XX, contêm algumas características interessantes, desde logo porque cada capítulo é constituído por um único, muito longo e perfeito, paragrafo escrito num tom coloquial.

Raduan Nassar, escritor brasileiro, foi o vencedor do Prémio Camões de 2016. A sua obra é escassa, destacando-se este Corpo de Cólera e outro livro Lavoura Arcaica a que acresce apenas um livro de contos Menina a Caminho.